quinta-feira, 12 de abril de 2012

O INTEGRALISMO (FASCISMO TUPINIQUIM OU VERDE-AMARELO)


No princípio do século 20, mais precisamente em 1929, a partir da quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, uma crise econômica espalhava-se pelo mundo, causando desemprego, diminuição dos salários e desconforto social. Conflitos políticos internacionais acabavam, obviamente, refletindo-se no Brasil. O nazismo e o fascismo, como oposição ao socialismo, cresciam apoiados pela alta burguesia e como meios e tentativas de superar a essa crise político-econômica.

O nazifascismo, então, chegou ao Brasil, e na primeira metade do século 20, em 1932, dentro do contexto dos acontecimentos europeus e inspirado principalmente no fascismo italiano, nascia a Ação Integralista Brasileira (AIB), através de um Manifesto à Nação Brasileira, de autoria do escritor Plínio Salgado e a partir de reuniões de vários grupos da direita política.

O Manifesto preconizava uma ditadura ultra nacionalista, um partido único, a obediência a um único chefe e a crença na famosa apologia “Deus, Pátria e Família”, que é o chauvinismo da civilização cristã e do patriarcalismo, ou seja, a crença (narcisista) exagerada e tendenciosa de que o país ou grupo ao qual se está inserido é o melhor em qualquer aspecto do que os outros. Seu conteúdo programático atacava ainda, com violência, o liberalismo burguês e o socialismo. O Estado deveria ser autoritário e extremamente nacionalista.

O principal apoio às ideias integralistas vinha dos setores mais conservadores da sociedade: das oligarquias tradicionais (latifundiários e grandes capitalistas), da alta hierarquia militar, da Igreja Católica e inclusive de parte da classe média descontente.

Como era inspirada no fascismo europeu, a AIB pregava o ódio aos comunistas; o “perigo vermelho” estava por toda a parte. As manifestações esquerdistas tomavam vulto no Brasil, e os integralistas, como seu modelo italiano, formavam grupos paramilitares (os “camisas-verdes”), agindo violentamente para dissolver as manifestações dos esquerdistas.

Sua organização se inspirava em modelos militares, com obediência rígida à hierarquia, culto ao chefe, militantes fardados, bandeiras, símbolos e saudações com o braço levantado e o grito “anauê”. Viam-se pelas ruas marchas, manifestações e ataques armados aos “contrários” à sua doutrina ou aos acusados apenas de serem comunistas.

Entretanto, mesmo com muitas inspirações estruturais e modelo nazi fascista, deve ser realçado que o integralismo e o nazifascismo são dois projetos com visões diferentes em certos aspectos. Este tinha o apoio do grande capital e buscava a expansão econômico-industrial sem se importar com as consequências, enquanto aquele visava uma “volta ao campo”.

É sabido no que resultou a ascensão do nazifascismo. Entre 1939 e 1945, a Segunda Guerra Mundial tirou a vida de cerca de 60 milhões de seres humanos, sem contar os mutilados, traumatizados e torturados. Junte-se a isto a destruição material, a fome e as crises consequentes.

Muitos dos que se uniam ao integralismo eram seduzidos pelo programa nacionalista e pela ideia de criar um Estado acima de classes sociais e em “benefício” de ricos e pobres. O capitalismo financeiro, para isto, deveria ser extirpado. E de igual maneira como o nazismo difundia, o mal estava principalmente depositado nas costas dos judeus, tese esta formulada a partir da deformação intencional dos fatos históricos e sociais. O antissemitismo, na visão historiográfica do mundo, sempre esteve presente nas ideologias totalitárias, pois o “mal” (os judeus) deveria dar lugar ao “bem”. É o racismo ariano potencializado a partir de crises econômicas e por mentes preconceituosas. Aliás, o antissemitismo tem uma de suas vertentes no antigo mito medieval do “judeu malvado”, onde os judeus eram responsabilizados por todos os males que aconteciam na Alemanha. Mas isto é temática para outro artigo e foge do contexto deste.

Enfim, com Getúlio Vargas nesse tempo chegando ao poder, os integralistas viam o Brasil rumando para a direita e indo ao encontro de suas ideias. Mas esta euforia integralista durou pouco, pois Getúlio Vargas, com o Estado Novo, decretou a extinção dos partidos políticos no Brasil e os integralistas não chegaram a ocupar cargos na política brasileira. Como era de se esperar, e a partir de sua tendência belicosa, os integralistas tentaram derrubar o governo em março de 1938, o que resultou em fracasso. Mais tarde, em maio do mesmo ano, um novo levante integralista, conhecido como intentona integralista, entrava em ação, e mais uma vez resultou em fracasso. Plínio Salgado continuou em liberdade, e em janeiro de 1939 foi para o exílio, em Portugal.

Cabe a pergunta: poderia haver um regime sociopolítico ideal ou mais conveniente para uma nação e seu desenvolvimento?

O Totalitarismo sempre pregou e se orgulhou de possuir muitas vantagens. Por exemplo: a centralização do poder como facilitação do controle geral das atividades, sem dispersão; o impedimento de discussões improdutivas, principalmente entre políticos corruptos; o controle das disputas de cargos públicos; a aplicação de leis sem a interferência das câmaras e do senado que são lerdos e se perdem em discussões ideológicas, esquecendo-se do bem comum, e assim por diante.

Mas tudo isto apresentou e apresenta problemas, pois para que possa funcionar deve impôr controle à liberdade de pensamento, de associação e de locomoção. Além do mais, o coletivo fica restrito ao pensamento de um ou de poucos no poder; a iniciativa é tolhida.

Em suma, é perfeitamente visível que a liberdade em demasia é degenerante e em tudo promove desordem. Seria necessário que o povo fosse de grande cultura e principalmente de elevado caráter para que a liberdade não se tornasse libertinagem, corrupção e exploração. A absoluta liberdade é caótica nos atuais moldes de nossa civilização e aspirações da humanidade. A norma ainda é de uma liberdade de se fazer o que deve ser feito, e não a liberdade de se fazer o que quiser. Enquanto isto, a história nos mostra um aglomerado de ideologias político-econômicas na tentativa de ser (ou impôr) a mais perfeita.

Prof. Hermes Edgar Machado Jr. (Issarrar Ben Kanaan)



Referências e Sugestões Bibliográficas:
  • “Pequena História da República”, Cruz Costa
  • “O Brasil Contemporâneo”, Sandra Jatahy Pesavento
  • “História do Brasil Contemporâneo”, Luiz Roberto Lopez
  • “História do Século XX”, Paulo Fagundes Vizentini
  • “Brasil em Perspectiva”, Carlos Guilherme Mota (org.)
  • “O Inimigo Eleito: os judeus, o poder e o antissemitismo”, Júlio José Chiavenato
  • “Getúlio Vargas e sua Época”, Antonio Augusto Faria e Edgard Luiz de Barros
  • “A História Crítica da Nação Brasileira”, Renato Mocellin
  • “Dicionário de História do Brasil”, Moacyr Flores
  • “Convite à Filosofia”, Marilena Chaui


    Fonte da imagem: Acervo de autoria pessoal

Um comentário:

  1. Para o conteúdo do texto a conclusão é muito simplista acerca do que é liberdade no capitalismo!

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