domingo, 15 de abril de 2012

DESESCRAVIZAÇÃO: UMA HISTÓRIA CONTADA PELA METADE

“... a abolição libertou os brancos do fardo da escravidão e abandonou os negros à sua própria sorte.” (Florestan Fernandes)

A crise da escravidão no Brasil foi um processo lento e incerto. Teve início com o Bill Aberdeen, de 1845, e com a Lei Eusébio de Queirós, de 1850.

Com o fim do tráfico internacional, a escravidão entrava em progressivo colapso, auxiliada pelo processo de decadência do Império, e para defender esse sistema de trabalho a aristocracia escravista recorria ainda a todos os instrumentos possíveis, da violência à política.

Marcante no Brasil e que impulsionou para acabar com a escravidão foi o chamado Movimento Abolicionista. Os escravos sempre lutaram contra a escravidão, porém, a partir de meados do séc. XIX, essa luta passou a empolgar também uma parcela da população livre urbana. O estímulo deveu-se a uma série de acontecimentos internacionais, dentre eles, destaca-se, a oposição inglesa à escravidão e que ia abrindo espaço à reafirmação dos princípios liberais de igualdade jurídica, muito apreciado pelos abolicionistas.

Setores urbanos também juntaram-se ao movimento quando começaram a perceber que a relação entre o fim da escravidão e desgraça econômica era uma habilidosa montagem de ideias visando desarmar os opositores à escravidão.

Sabe-se que o grande contingente de escravos concentrados na região Nordeste teve como elemento causador a economia açucareira do início da colonização. Entretanto, esse quadro começou a mudar com a queda do comércio açucareiro e o deslocamento da matriz econômica do Nordeste para o Sudeste, com o crescimento e a valorização do café. Devido à cultura do café houve um aumento significativo do número de escravos em São Paulo, trazendo consigo todas as pressões e tensões relativas ao trabalho forçado.

Tais pressões e tensões tinham como motivos: - a contradição entre a fé cristã e a prática da escravatura, - a contradição entre liberalismo e a escravidão, ou seja, os ideais de liberdade e igualdade sociais e jurídicas, princípios básicos do liberalismo, se confrontavam com a realidade de pelo menos 40% da população que não era contemplada com esses direitos, e - a tensão por detrás do trabalho forçado, ou seja, a oposição e resistência dos escravos, das mais variadas formas, motivadas pela conscientização e desejo da possibilidade da conquista da liberdade.

Assim, ia se processando uma mudança de mentalidade do Estado em relação à escravidão que iria afetar: - a questão dos magistrados, - uma forte pressão externa, uma crescente luta dos escravos por sua própria integridade; e - uma divisão entre fazendeiros do Nordeste e Sudeste.

E a luta pela emancipação acontecia, então, em meio às disputas entre o governo e a classe dos proprietários rurais e no bojo dos acontecimentos sociais da época.

Surgia ainda a Lei do Ventre Livre, em 1871, que por sua vez também garantia oficialmente o direito à compra da liberdade e à prática do Estado na libertação de seus escravos. A aprovação dessa lei deveu-se muito ao grande número de representantes políticos do Nordeste que, com o deslocamento de escravos de sua região para o Sudeste, provocados pela corrida do café, deixaram de temer a questão abolicionista.

Pelas pressões externas e internas, portanto, a escravidão ia, aos poucos, se desorganizando. E isso tomava força porque os escravos também estavam se inserindo na realidade de uma construção de consciência nacional e de cidadãos, principalmente pela apropriação da língua e costumes.

Assim sendo, quando a Lei Áurea foi promulgada (1888), apenas ratificou toda essa situação, o que não deu, de fato, por encerrado a escravatura no Brasil.

Cabe aqui destacar que a figura da Princesa Isabel não possui nada de bondosa; ela assinou a Lei somente porque não havia outra alternativa a partir de fortes pressões e contextos sociais, políticos e econômicos nacionais e internacionais, principalmente devido ao processo civilizatório. A ciência historiográfica faz cair por terra ídolos forjados, tanto por interesses diversos e obscuros, quanto por ignorância.

É importante trazer à tona que, ao contrário do que afirmavam os escravocratas, o país não mergulhou no caos com o fim da escravidão. Na verdade, foram os interesses dos escravocratas que foram frustrados.

Em suma, para os negros libertos foi grande, e continuou a ser, a dificuldade de integração na sociedade. Enfrentando um racismo mal-encoberto, sem oportunidades de melhorar a situação material, os negros formaram a camada mais explorada das classes populares. E mesmo com dificuldades e sacrifícios tentavam eliminar tudo o que lembrasse a escravidão.

A difícil relação entre senhores e escravos agora tomava a forma de discriminação entre brancos e negros. Estava se consolidando o racismo, a marginalização e a discriminação racial e social contra o negro; realidade esta que se prolonga até hoje.


Prof. Hermes Edgar Machado Jr. (Issarrar Ben Kanaan)



Referências e sugestões bibliográficas:
  • “Da Monarquia à República: momentos decisivos”, Emilia Viotti da Costa
  • “Brasil: Síntese da Evolução Social”, Aluysio Sampaio
  • “História Sincera da República”, Leoncio Basbaum
  • “A Abolição”, Emilia Viotti da Costa
  • “O Sistema Colonial”, José Roberto do Amaral Lapa
  • “Brasil Império”, Hamilton M. Monteiro
  • “História do Brasil Imperial”, Luiz Roberto Lopez
  • “Evolução Social do Brasil”, Nelson Werneck Sodré
  • “Formação Histórica do Brasil”, Nelson Werneck Sodré


    Fonte da imagem:  Acervo de autoria pessoal

quinta-feira, 12 de abril de 2012

O INTEGRALISMO (FASCISMO TUPINIQUIM OU VERDE-AMARELO)


No princípio do século 20, mais precisamente em 1929, a partir da quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, uma crise econômica espalhava-se pelo mundo, causando desemprego, diminuição dos salários e desconforto social. Conflitos políticos internacionais acabavam, obviamente, refletindo-se no Brasil. O nazismo e o fascismo, como oposição ao socialismo, cresciam apoiados pela alta burguesia e como meios e tentativas de superar a essa crise político-econômica.

O nazifascismo, então, chegou ao Brasil, e na primeira metade do século 20, em 1932, dentro do contexto dos acontecimentos europeus e inspirado principalmente no fascismo italiano, nascia a Ação Integralista Brasileira (AIB), através de um Manifesto à Nação Brasileira, de autoria do escritor Plínio Salgado e a partir de reuniões de vários grupos da direita política.

O Manifesto preconizava uma ditadura ultra nacionalista, um partido único, a obediência a um único chefe e a crença na famosa apologia “Deus, Pátria e Família”, que é o chauvinismo da civilização cristã e do patriarcalismo, ou seja, a crença (narcisista) exagerada e tendenciosa de que o país ou grupo ao qual se está inserido é o melhor em qualquer aspecto do que os outros. Seu conteúdo programático atacava ainda, com violência, o liberalismo burguês e o socialismo. O Estado deveria ser autoritário e extremamente nacionalista.

O principal apoio às ideias integralistas vinha dos setores mais conservadores da sociedade: das oligarquias tradicionais (latifundiários e grandes capitalistas), da alta hierarquia militar, da Igreja Católica e inclusive de parte da classe média descontente.

Como era inspirada no fascismo europeu, a AIB pregava o ódio aos comunistas; o “perigo vermelho” estava por toda a parte. As manifestações esquerdistas tomavam vulto no Brasil, e os integralistas, como seu modelo italiano, formavam grupos paramilitares (os “camisas-verdes”), agindo violentamente para dissolver as manifestações dos esquerdistas.

Sua organização se inspirava em modelos militares, com obediência rígida à hierarquia, culto ao chefe, militantes fardados, bandeiras, símbolos e saudações com o braço levantado e o grito “anauê”. Viam-se pelas ruas marchas, manifestações e ataques armados aos “contrários” à sua doutrina ou aos acusados apenas de serem comunistas.

Entretanto, mesmo com muitas inspirações estruturais e modelo nazi fascista, deve ser realçado que o integralismo e o nazifascismo são dois projetos com visões diferentes em certos aspectos. Este tinha o apoio do grande capital e buscava a expansão econômico-industrial sem se importar com as consequências, enquanto aquele visava uma “volta ao campo”.

É sabido no que resultou a ascensão do nazifascismo. Entre 1939 e 1945, a Segunda Guerra Mundial tirou a vida de cerca de 60 milhões de seres humanos, sem contar os mutilados, traumatizados e torturados. Junte-se a isto a destruição material, a fome e as crises consequentes.

Muitos dos que se uniam ao integralismo eram seduzidos pelo programa nacionalista e pela ideia de criar um Estado acima de classes sociais e em “benefício” de ricos e pobres. O capitalismo financeiro, para isto, deveria ser extirpado. E de igual maneira como o nazismo difundia, o mal estava principalmente depositado nas costas dos judeus, tese esta formulada a partir da deformação intencional dos fatos históricos e sociais. O antissemitismo, na visão historiográfica do mundo, sempre esteve presente nas ideologias totalitárias, pois o “mal” (os judeus) deveria dar lugar ao “bem”. É o racismo ariano potencializado a partir de crises econômicas e por mentes preconceituosas. Aliás, o antissemitismo tem uma de suas vertentes no antigo mito medieval do “judeu malvado”, onde os judeus eram responsabilizados por todos os males que aconteciam na Alemanha. Mas isto é temática para outro artigo e foge do contexto deste.

Enfim, com Getúlio Vargas nesse tempo chegando ao poder, os integralistas viam o Brasil rumando para a direita e indo ao encontro de suas ideias. Mas esta euforia integralista durou pouco, pois Getúlio Vargas, com o Estado Novo, decretou a extinção dos partidos políticos no Brasil e os integralistas não chegaram a ocupar cargos na política brasileira. Como era de se esperar, e a partir de sua tendência belicosa, os integralistas tentaram derrubar o governo em março de 1938, o que resultou em fracasso. Mais tarde, em maio do mesmo ano, um novo levante integralista, conhecido como intentona integralista, entrava em ação, e mais uma vez resultou em fracasso. Plínio Salgado continuou em liberdade, e em janeiro de 1939 foi para o exílio, em Portugal.

Cabe a pergunta: poderia haver um regime sociopolítico ideal ou mais conveniente para uma nação e seu desenvolvimento?

O Totalitarismo sempre pregou e se orgulhou de possuir muitas vantagens. Por exemplo: a centralização do poder como facilitação do controle geral das atividades, sem dispersão; o impedimento de discussões improdutivas, principalmente entre políticos corruptos; o controle das disputas de cargos públicos; a aplicação de leis sem a interferência das câmaras e do senado que são lerdos e se perdem em discussões ideológicas, esquecendo-se do bem comum, e assim por diante.

Mas tudo isto apresentou e apresenta problemas, pois para que possa funcionar deve impôr controle à liberdade de pensamento, de associação e de locomoção. Além do mais, o coletivo fica restrito ao pensamento de um ou de poucos no poder; a iniciativa é tolhida.

Em suma, é perfeitamente visível que a liberdade em demasia é degenerante e em tudo promove desordem. Seria necessário que o povo fosse de grande cultura e principalmente de elevado caráter para que a liberdade não se tornasse libertinagem, corrupção e exploração. A absoluta liberdade é caótica nos atuais moldes de nossa civilização e aspirações da humanidade. A norma ainda é de uma liberdade de se fazer o que deve ser feito, e não a liberdade de se fazer o que quiser. Enquanto isto, a história nos mostra um aglomerado de ideologias político-econômicas na tentativa de ser (ou impôr) a mais perfeita.

Prof. Hermes Edgar Machado Jr. (Issarrar Ben Kanaan)



Referências e Sugestões Bibliográficas:
  • “Pequena História da República”, Cruz Costa
  • “O Brasil Contemporâneo”, Sandra Jatahy Pesavento
  • “História do Brasil Contemporâneo”, Luiz Roberto Lopez
  • “História do Século XX”, Paulo Fagundes Vizentini
  • “Brasil em Perspectiva”, Carlos Guilherme Mota (org.)
  • “O Inimigo Eleito: os judeus, o poder e o antissemitismo”, Júlio José Chiavenato
  • “Getúlio Vargas e sua Época”, Antonio Augusto Faria e Edgard Luiz de Barros
  • “A História Crítica da Nação Brasileira”, Renato Mocellin
  • “Dicionário de História do Brasil”, Moacyr Flores
  • “Convite à Filosofia”, Marilena Chaui


    Fonte da imagem: Acervo de autoria pessoal

OS FASCISMOS

Este texto se propõe estabelecer uma relação entre o filme “Arquitetura da Destruição” (direção de Peter Cohen) e o texto “Os Fascismos”, de Francisco Carlos Teixeira da Silva (In: Aarão; Ferreira (orgs.). “O Século XX”, vol. 2).


O filme mostra claramente que Adolph Hitler possuía um imaginário artístico muito marcante, embora, na sua vida, isto tenha sido frustrado quanto ao seu estudo e concretização. Ele era um admirador da Antiguidade Clássica (Grécia e Roma), e foi daí que provinha todo o seu gosto pelas artes.

A partir desta capacidade artística proeminente e inerente em si, projetou um modelo de raça, baseado nos moldes arianos a que tanto se inspirava, destruindo tudo o que considerava, sob seu ponto de vista, como “feio” e “anormal”, para criar, então, um novo homem, puro de raça e estético. Buscava, assim, todo o apoio nas artes para desenvolver a sua ideologia e seu projeto.

Fascinado pela ideia racial ariana, sua visão de estética fez apresentar os seus diversos inimigos sob um aspecto comum, para não haver o perigo de as massas refletirem sobre as diferenças entre esses inimigos. E o aspecto comum foi o antissemitismo. Hitler exigia fé, mas sem o livre raciocínio, pois se raciocinassem poderiam descobrir ou desconfiar de sua ideologia baseada em princípios claramente autoritários que moviam todas as suas decisões.

Os ingredientes essenciais do Nacional-Socialismo já estavam em ebulição e evidência mesmo antes de Hitler os impor. Porém, por seu meio, recebeu as suas feições e a organização radical de repúdio deliberado e integral dirigido à religião, à ética e à humanidade. Assim, tentando eliminar e depois utilizando-se do eliminado, ou seja, tentando eliminar o “feio” e expressar a estética, utilizou-se exatamente daquilo que queria eliminar e que há de mais bárbaro e cruel na imaginação. Imaginação esta que Hitler possuía em alto grau. Talvez por este fato, dentre outros, os fascistas, em geral, difamam a psicanálise pois ela poderia dizer e revelar coisas que os fariam entrar em conflito com seus princípios ideológicos. Junte-se a isto que esta ciência psicanalítica era considerada judaica; Sigmund Freud era judeu.

O mundo naquela época parecia estar paralisado, amedrontado. Muitos, apesar de tudo, consideravam os fascismos como um possível meio e alternativa de conter a expansão do comunismo. Ansiedade e paranóia era o estado que vivia o mundo depois de acontecimentos marcantes como a Revolução Russa, a 1ª Guerra Mundial, a crise de 1929 e outras inquietações. E a defesa contra isto vai sendo idealizada por meio da construção de uma chamada “teoria limpa”, estética, artística, de reconstrução e de ordem. Essa “teoria” apresentou-se ao mundo ansioso e amedrontado como ideias e ideais fascistas ou os fascismos, e mais particularmente na forma de nazismo, com todas as suas características de uma arte e estética delirante e frustrada, onde ninguém era perdoado, nem os liberais, nem os marxistas e nem ainda o próprio povo alemão. Genericamente temos o nazismo (Alemanha, Hitler), o fascismo (Itália, Mussolini) e até a versão brasileira, o integralismo* (Plínio Salgado).

Uma liderança carismática organizada, ritualística e artística parecia envolver os seres humanos. Estes, quem sabe, frustrados, por sua vez, por não encontrarem outras alternativas, até se dispuseram inicialmente a enveredar pelo mundo e alternativas fascistas. Porém, o preço foi demasiadamente alto. A liderança carismática, no caso de Hitler, negando e tolhendo todas as diferenças, que são inerentes ao ser humano, optou por caminhos obscuros, transformando o gosto pelo belo, pela ordem e pela estética em gosto pela destruição.

Atualmente, a possibilidade moderna da existência de várias versões de fascismo, como no passado, coincide sempre com o caos social, político, econômico e ético, basta que analisemos e relacionemos, historicamente, o ambiente social e os seus governos respectivos. Por isto, os fascismos tornam-se em movimentos de massas, que não podem ser considerados apenas como mais um dos fenômenos históricos do passado, pois são possibilidades sempre presentes. O extermínio sempre foi uma realidade e vive no inconsciente individual e coletivo dos povos. Parece estar sempre viva a tendência, por parte de alguns, à aniquilação da individualidade, das leis e da justiça, tal como nos campos de extermínio nazista, daí o receio ou a esperança.

O peso histórico das atrocidades fascistas e mais particularmente dos nazistas parece ser um fato que ainda perturba profundamente as consciências. Talvez aí esteja a razão da proliferação de livros (neo)nazistas e de “revisionismos” históricos. Quem sabe alguns ainda pretendem aniquilar os conceitos de “bem” e “mal”, “certo” e “errado”. Peso de consciência para outros? Aniquilação de conceitos? Desorientação? Tentativas de retorno aos fascismos? Destruição e negação da história (como se fosse possível)?

A utilização do racismo como uma principal arma ideológica era o mesmo no programa de todos os fascismos em qualquer época, como registra a historiografia. É o mecanismo de manipulação de massas, de ódio e desprezo pelas alteridades e minorias.

As ideias estéticas de Hitler que se tornaram a “arquitetura da destruição” forçavam a dissolução dos partidos (exceto o seu partido!), fechavam sindicatos, enchiam os campos de concentração de socialistas, comunistas e judeus, e arregimentavam as forças intelectuais, educacionais e religiosas sob a vigilância da Gestapo. E Hitler dizia: “As massas são como uma mulher que se submeterá ao homem forte...” E quanto a essa submissão autoritária Mussolini dizia: “Tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado.” Eis o desejo profundo dos governos totalitários que, em outras palavras, arquitetam controlar e determinar todos os passos da vida pública e privada dos indivíduos.

Hitler foi um espírito rebelde desde jovem. Parece ter sofrido da ilusão dos “sem-rumo” e frustrados na vida. De um grande artista que queria ser não passou de algumas poucas obras artísticas. Torna-se difícil saber o que se passa realmente no âmago dos homens, porém, Hitler, por exemplo, nos leva a crer que criou raiva ao mundo e que se vingaria. Sua ambição artística bloqueada parece ter se transformado em crueldade. Tudo nos faz acreditar que, com sua raiva e frustração, foi aproveitado como instrumento para levar a cabo a “vingança da Alemanha” após a 1ª Guerra Mundial. Ou ele se aproveitou da situação para se vingar de suas frustrações, ou frustrado foi reanimado e aproveitado para as manobras pós Tratado de Versalhes onde os alemães foram humilhados. Em qualquer caso ele levou adiante uma espécie de “vingança” contra as formas liberais de organização que acusa serem culpadas pela crise e elementos desagregadores do Estado. Levou ainda adiante a investida carismática, a introdução do Estado Orgânico que não se macula com as contradições de grupos e minorias. Foi ainda contra o marxismo e as alteridades como já visto neste texto.

Provavelmente Hitler não tenha sido culpado único. Tudo indica que tenha sido um instrumento aliado aos interesses militares e comerciais da Alemanha (Goebbels, Thyssen etc.). Junte-se a isto que o povo, de certa forma, também estava disposto a ver a Alemanha de outra maneira, diferente do pós 1ª Guerra, mesmo que trocada a educação pelo militarismo, pela disciplina rígida e pelo totalitarismo fascista.

Enfim, a historiografia é rica em fatos históricos sobre o assunto, ainda mais sendo um episódio que pode ser considerado recente e fartamente ilustrado e documentado, com testemunhas que viveram e trouxeram fatos à tona. Mas o que pode ser afirmado é que a humanidade passa periodicamente por experiências ideológicas de diversas e árduas matizes. Sempre grupos ou pessoas individualmente sintonizaram-se com as diferentes ideologias, sejam essas sintonias fruto de causas pessoais (compreensão ou visão de vida, frustração, ilusão etc.) ou simplesmente uma meta a ser seguida.



Prof. Hermes Edgar Machado Jr. (Issarrar Ben Kanaan) 



Fonte da Imagem: Acervo de autoria pessoal