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sábado, 17 de setembro de 2016

A CRÍTICA DE ZYGMUNT BAUMAN À PÓS-MODERNIDADE

Zygmunt Bauman é um dos sociólogos mais aclamados da atualidade. Suas críticas e seus livros rendem milhares de reflexões acerca da condição humana na pós-modernidade. Qual é o ponto essencial disso tudo? Há um ponto essencial? Por que Zygmunt Bauman é tão importante para nossa época?

A importância de Bauman vai além de suas aparições na mídia nos últimos anos. Zygmunt Bauman é autor de diversos livros que tentam interpretar o momento cultural e a estrutura social que vivemos atualmente. Declaradamente um crítico da pós-modernidade, os livros de Bauman ultrapassam as esperanças com o presente e fazem dele um campo de lutas mais invisíveis. Lutas e coerções que acabam parecendo liberdade, que parecem livre-escolha.

Bauman nasceu na Polônia em 1925 e foi professor na Universidade de Varsóvia. Antes disso, havia fugido do nazismo na Segunda Guerra Mundial, quando se mudou para a URSS. Quando voltou para seu país de origem, o autor foi perseguido pelo antissemitismo local, teve artigos censurados, foi expulso de seu cargo e encontrou um novo lar na Universidade de Leeds, na Inglaterra, onde comandou o departamento de sociologia da instituição.

A importância de Bauman está na interpretação da fluidez dos tempos pós-modernos. Bauman é duro neste aspecto, declara-se um sociólogo crítico e recusa o rótulo de “pós-modernista”. Para ele, “pós-modernista” é aquele que reproduz a ideologia do pós-modernismo, que se recusa a qualquer tipo de debate, que relativiza a vida ao máximo e que, dentro dessa super relativização, não consegue estabelecer críticas e nem formar regras para guiar a sociedade. Pós-modernista é aquele que foi construído dentro de uma condição pós-moderna, ele a reproduz e é constituído por ela. É seu arauto, seu representante inconsciente e é este posto que Bauman rejeita e nega fielmente.

A posição do autor é de crítica às relações sociais atuais. Trata-se de começar com uma categorização nova: modernidade líquida e modernidade sólida. Uma que representa o novo mundo, a pós-modernidade, e o outro que define a modernidade, a sociedade industrial, a sociedade da guerra-fria. Não é difícil de conseguir perceber a relação direta entre a “solidez” das relações da guerra-fria, com dois núcleos de produção dos julgamentos corretos (o capitalista, representado pelos EUA e o comunista, representado pela URSS), com duas opção distintas e antagônicas para serem “escolhidas”, ao contrário do pós-guerra fria, após a queda do Muro de Berlim e com a dissolução de qualquer centro de emissão moral, com a primazia do consumo em detrimento de qualquer ética da parcimônia etc. etc.

A sociedade líquida é a sociedade das relações fluidas, das relações frágeis, é a sociedade em que a fixidez de uma amizade em que ambas as partes matariam e morreriam pela outra já não existe mais. Não se trata mais de uma sociedade em que os indivíduos sabem o seu destino desde o nascimento, agora estamos imersos em um espaço social onde - teoricamente - escolhemos nosso futuro, optamos pelo nosso destino, somos responsáveis pelo nosso fracasso. Não é mais necessário ser asiático para ser um legítimo budista, basta comprar os livros certos e assistir às aulas certas. Ninguém é, e sim está.

Em primeiro momento pode-se pensar que a condição pós-moderna é uma condição de liberdade, mas é aí que podemos ver a camisa de força escondida.

O hedonismo pós-moderno, fantasiado de livre-escolha, de “se não gostar do programa, então desligue a televisão”, em que parecemos ser reis de tudo aquilo que chega até nós, é, primeiramente, uma condenação da sociedade. Construímos uma sociedade onde o mal-estar se agravou e se delineou em novas importantes categorias psiquiátricas, como a síndrome do pânico e a depressão. É nesta sociedade onde as pessoas não conseguem desenvolver ferramentas de socialização eficientes o bastante para uma conversa em um bar. É aqui onde começar uma amizade virtual, até mesmo ter um “amor virtual”, se torna algo fácil e plausível. Nós não nos relacionamos, mas nos conectamos, não pela facilidade da conexão, mas pela facilidade da desconexão. Nos conectamos porque a relação não tem mais a mesma consistência, agora é frágil como uma conexão, e quando não temos qualidade, investimos na quantidade. Aqui o mito da sexualidade libertada é contestada pelo autor. Só há uma nova forma de aprisionamento, uma nova delimitação das relações amorosas, uma nova configuração das maneira de amar.

Sob um ponto de vista macro, Bauman revela que o capitalismo atual não tem mais um grande banco de trabalhadores reservas, mas tem dispositivos de armazenamento e de exclusão mais eficientes. As prisões, ao contrário daquilo que foi dito por Foucault, não é mais o lugar da disciplina, mas é o da vigilância e exclusão total. O preso é um sujeito vigiado e armazenado, mas não para ser disciplinado, ele não é mais útil e nem pode ser. É uma vida desperdiçada, é um lixo humano.

Mas não são somente nas prisões que nós encontramos aqueles que precisam ser eliminados: eles também estão nas favelas e nas ruas, são os desempregados crônicos, aqueles que foram expulsos da esfera do trabalho por estarem “desatualizados”, ou que não têm mais para onde ir, pois não podem mais seguir o fluxo de imigração para países de exploração de mão de obra estrangeira. São os mendigos, os loucos, os pobres, os drogados, aqueles que fogem do padrão da sexualidade, são todos os que estão fora da construção da ordem, são os que realizam o contrário, que desfazem a ordem, que dão indícios de que ela pode ser quebrada ou de que ela não é absoluta.

Mas há uma nova forma de exclusão, a forma que advém particularmente da globalização: a exclusão do não-consumidor. Aquele que não consome já não é parte do esforço de construção da ordem, já que a ordem tem lugar cativo para os grandes consumidores, para os gastadores compulsivos e para aqueles que querer “exercer sua liberdade” por meio do consumo de serviços e produtos que demonstrem suas escolhas em todas as esferas da vida. Os que não consomem não podem ficar no espaço social.

Um exemplo pode ser visto na própria arquitetura das cidades. Para Bauman, as cidades são projetadas para serem o antro da diversidade, mas, ao mesmo tempo, um dispositivo de exclusão eficiente: os ferros pontiagudos que são colocados em frente aos prédios de grandes corporações são um exemplo de tática de exclusão, evitando que mendigos fiquem nestes lugares.

O não-consumidor é o novo estranho, o ambivalente, aquele que não pode ser localizado em nosso mapa cognitivo, que, na verdade, atrapalha seu funcionamento, que mostra suas condições errantes, sua incapacidade de abarcar o todo. Esses estranhos são absorvidos e “domesticados”, ou completamente eliminados. O novo racismo não é o da caça e da morte do estranho, mas é o da separação e da “culturalização” da essência.

Agora não se trata de uma essência biológica, mas de uma essência cultural. Os novos racistas imputam uma cultura fixa a cada grupo específico e promovem a separação total destas, as hierarquizam de maneira que o branco “tem a cultura superior”. Bauman diz que a tática de absorver e domesticar não é menos autoritária que a prática dos regimes totalitários de morte e exclusão. Para ele, a destruição daquilo que é a identidade do sujeito é um movimento autoritário e forçoso de eliminação do sujeito. Como não se pode mais matar, então é necessário ter ambientes certos para a absorvê-lo e reeducá-lo, como a escola, a igreja, ou as prisões e as favelas. É necessário normatizar o estranho.

Em nossa época, o medo se espalha como uma malha infinita. Os meios de comunicação tem um papel privilegiado, pois transmitem os objetos do medo de forma mais rápida e brusca que o próprio objeto poderia se transmitir, vide a Al-Qaeda após o 11 de setembro. É na televisão onde os programas telejornalísticos banalizam os medos e, ao mesmo tempo, fazem vibrar o alarme da “violência local” e da “violência global”.

O controle dos medos também é um assunto em pauta. Bauman diz que uma das formas de exercer o poder eficientemente é controlando as incertezas. O grupo que controla as incertezas, que detém o controle da decisão e que, por sua vez, prevê todos os movimento sem ser previsto por nenhum outro grupo, este grupo consegue, também, decidir em quais momentos a sociedade deve ter medo (como nos Estados de Sítio eternos) e quando deve ficar calma e pacífica, como nas tentativas neoliberais de acalmar a tensão entre os miseráveis garantindo que poderão ascender na hierarquia social, desde que trabalhem o bastante para isso.

Basicamente, Bauman diz que a sociedade atual não garante a manutenção do sujeito em sua posição social, não garante seu sustento e também não garante sua integridade física. Vivemos em uma sociedade onde ontem estávamos no topo na hierarquia, mas hoje estamos de volta à base; onde ontem tínhamos empregos, mas hoje podemos não ter mais (e é normal não ficarmos no mesmo); e onde as tecnologias de proteção individual e vigilância aumentam em disparada.

A importância de Bauman e de outros intelectuais que renovaram a crítica à contemporaneidade é de poder entender de maneira nova e atualizada a dinâmica da sociedade atual. Bauman trata de temas mais ou menos globais e coletivos, que se expressam também na vida individual. Não se trata só de falar sobre as “relações frágeis”, mas de entender que elas não são assim “do nada”, de repente, mas que são fruto de uma época, de um dado momento histórico.

Ninguém está fora desta fragilidade. Não é uma questão de escolha ou de autopoliciamento. Bauman diz isso bem ao fazer a distinção entre segurança e proteção. Para Bauman, segurança é aquilo que constitui o sujeito, a segurança (e a insegurança) são inscritas no sujeito em toda sua socialização. É algo que forma o sujeito. Isso significa que a segurança tem a ver com algo que nós não escolhemos, mas que é a base para nós escolhermos outras coisas. Somos inseguros quando checamos o celular de nossos parceiros para saber se estão nos traindo. Já a proteção tem a ver com aquilo que você compra ou acumula para guardar a integridade física. Proteção são câmaras, coletes à prova de balas, bunkers etc. etc.

O autor deixa claro que não se resolve problemas globais com soluções locais. Isso também pode ser entendido como um aviso de que não se resolve a insegurança individualmente, mas sim, coletivamente e globalmente. A futilidade, o consumismo e a incerteza são constitutivos e devem ser combatidos sabendo que eles fazem parte de nós, não tentando nos afastar deles, em busca de uma salvação individual.




Vinícius Siqueira






Fonte do Texto e da Gravura: OBVIOUS
www.obviousmag.org

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

"NEM TODO POLÍTICO É IGUAL" - COMO O POVO BRASILEIRO É PERPETUAMENTE IDIOTA

“Nem todo político é igual”, “há exceções”, “tem gente boa no meio” e com desculpas deste tipo, sempre apelando à mística exceção, os brasileiros são perpetuamente feitos de idiotas pelas pessoas envolvidas na política brasileira. No Brasil inteiro não há sequer uma pessoa envolvida com a vida política que seja um ente político espiritualmente nato e que tenha ligação com a herança espiritual da política conforme esta se manifestou na Grécia Antiga e na Roma Antiga. Todas as pessoas envolvidas com a política no Brasil são espíritos baixos que se aproveitam da política apenas para satisfazer seus interesses pessoais. Na política brasileira o “bem” e o “mal”, o “bom” e o “mau” e o “certo” e o “errado” são meramente questões de interesses pessoais e um político ou partido político acabam sendo “o bem”, “o bom” e “o certo” meramente porque são aquilo que uma pessoa quer ver ganhar ou porque representam oposição ao político ou ao partido que uma pessoa quer ver perder. Todas as pessoas envolvidas com a política no Brasil só estão envolvidas na política para satisfazer seus interesses pessoais, não os interesses do povo. Políticos e partidos brigam apenas pelo poder e o poder é a única coisa que lhes importa.

Mesmo os políticos e os partidos que são tidos como “o bem”, “o bom” e “o certo” estão envolvidos na política apenas para satisfazer seus interesses pessoais, mesmo que tais interesses não tenham necessariamente ligação alguma com dinheiro ou poder. Quando um político ou partido buscam o poder para fazer valer “o que acreditam”, mesmo que “o que acreditam” seja algo tido como “o bem”, “bom” e “certo”, estes estão buscando poder para satisfazer seus interesses pessoais de impor sua ideologia ao povo. Não importa o quão “do bem”, “bons” ou “certos” pareçam um político e um partido, as pessoas envolvidas na política não estão na política para impor sua ideologia ao povo, por mais “do bem”, “boa” ou “certa” que seja tal ideologia. Política não é o instrumento para alguém impor sua ideologia ao povo; a política é o instrumento por onde alguém, eleito pelo povo para representá-lo, representará o povo que o elegeu e nisto coisa alguma importará a opinião pessoal ou do partido do eleito. O político deve fazer o que o povo quer naquilo que é melhor para o povo. Qualquer outra coisa além disto é deturpação da política. O povo é o chefe supremo e imediato dos políticos, não o contrário, como ocorre no Brasil.

No Brasil os políticos do Partido dos Trabalhadores (PT) querem impor ao povo brasileiro a ideologia do PT, os políticos e partidos de Esquerda querem impor ao povo brasileiro a ideologia de Esquerda, os políticos e partidos de oposição ao PT querem impor ao povo brasileiro a ideologia de oposição ao PT e de seu partido, os políticos liberais querem impor aos brasileiros a ideologia do liberalismo, os políticos da chamada “direita” querem impor ao povo brasileiro a sua ideologia chamada de “direita” e tudo se resume a políticos e partidos querendo votos para ganhar eleições para assim poder impor ao povo brasileiro as suas ideologias e opiniões pessoais. As pessoas envolvidas com a política no Brasil não se envolvem com a política para depois fazer ao povo brasileiro aquilo que o povo quer naquilo que é melhor para o povo, se envolvem com a política para ter ferramentas para impor ao povo o que bem quiserem. O povo brasileiro, como sempre, é feito de idiota pelos políticos brasileiros, os quais usam o povo brasileiro para alcançar o poder. O que os políticos querem no Brasil é poder, mesmo os políticos que são honestos e não se corrompem apenas querem o poder para impor suas ideologias e opiniões pessoais ao povo.

Assim, todos os políticos brasileiros são iguais na medida em que apenas buscam o poder para impor suas ideologias e opiniões pessoais ao povo brasileiro e não há sequer um político no Brasil inteiro que busque ser eleito para fazer ao povo aquilo que o povo quer naquilo que é melhor para o povo. Eleições no Brasil servem apenas para escolher quais políticos terão os instrumentos para impor suas ideologias e opiniões pessoais ao povo. O povo brasileiro, como uma nação, não tem voz após as eleições e fica jogado às traças na mera condição de expectador assistindo aos políticos e partidos eleitos fazerem o que bem quiserem. A deturpação da democracia criou a ilusão de que os candidatos eleitos são os “representantes do povo” de forma que sendo impossível ouvir a todos os cidadãos ouve-se os seus representantes, mas não é isto o que de fato ocorre. Os políticos eleitos passam a fazer o que bem entendem, sem de fato ouvir o povo e o povo fica sempre assistindo as imposições dos políticos e esperando novas eleições na esperança de que algo possa mudar no futuro em razão de uma troca de políticos e partidos. O povo brasileiro é sempre usado e jogado fora pelos políticos e partidos.

O verdadeiro político é meramente um representante do povo, não um salvador do povo. Não existe sequer uma pessoa inspirada, quanto mais iluminada, na política do Brasil, mas todos os políticos e partidos se apresentam como entes iluminados detentores de toda a Sabedoria Cósmica que buscam o poder para fazer com que o povo brasileiro viva no caminho da Luz Maior. O verdadeiro político não decide pelo povo, mas faz valer a vontade do povo naquilo que o povo quer naquilo que é melhor para o povo. Impor ideais e princípios é tirania e nenhum cidadão merece viver sob qualquer regime tirano.  A função do político não é impor ideais e princípios, mas todo político e partido no Brasil busca isto. Os políticos e partidos após vencerem as eleições, e desta forma garantidos seus cargos, não ouvem o povo e para eles o povo não tem valor algum. Após as eleições os políticos eleitos passam a viver em seu próprio mundo de disputa por poder, poder que lhes dá e dará meios para impor seus ideais e princípios, mas a política não existe para isto. A política existe para que o povo possa constantemente manifestar sua vontade e isso não ocorre no Brasil. No Brasil os políticos e partidos não existem para o povo, o povo existe para os políticos e partidos.

Não importa a ideologia do político e do partido que vencem as eleições, importa a vontade do povo e a vontade do povo brasileiro não é respeitada de forma alguma por político ou partido algum. O político, independentemente de sua ideologia, deve fazer valer a vontade do povo naquilo que é bom para o povo e nisto o político voltado à Esquerda deve se manifestar pelo viés de Direita quando isto representar a vontade do povo naquilo que é bom para o povo assim como o político voltado à Direita deve se manifestar pelo viés de Esquerda quando isto representar a vontade do povo naquilo que é bom para o povo. Não importa a ideologia do político, importa a vontade do povo naquilo que é bom para o povo. No Brasil a vontade do povo jamais foi respeitada pelos políticos e partidos brasileiros e o povo brasileiro não faz questão alguma de mudar coisa alguma em relação a isto haja vista que já se tornou marionete nas mãos dos políticos brasileiros na medida em que sucessivamente elegem um bando de políticos para substituir outro bando de políticos. O povo brasileiro foi completamente alienado para achar que existem políticos inimigos do povo que devem ser combatidos através de votos em outros políticos “amigos do povo”.

Existe um paradoxo demoníaco na política brasileira e o povo brasileiro o sustenta. Um bando de políticos conquista o poder para ser a salvação dos problemas criados por outro bando de políticos que conquistara o poder para também ser a salvação dos problemas criados por outro bando de políticos que também conquistara o poder para ser a salvação dos problemas criados por outro bando de políticos e assim sucessivamente. O PT surgiu como “salvação” dos problemas criados pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e logo depois o PSDB surgiu como “salvação” dos problemas criados pelo PT. Assim sucessivamente o povo brasileiro é usado como mero instrumento para dar poder para os políticos brasileiros. Não há político ou partido algum que realmente exerça a política como deve exercer – do povo, pelo povo e para o povo -, mas políticos e partidos sempre recebem poder do povo brasileiro que procura por salvação dos problemas criados pelos políticos e partidos que exercem o poder quando o exercem. O Brasil piora cada vez mais, o povo brasileiro sofre cada vez mais e os políticos brasileiros continuam fazendo o povo brasileiro de idiota com a ladainha de que “nem todo político é igual”.

A classe política do Brasil é a pior do mundo e a forma que esta encontra para se manter no poder é a conversa de que “nem todo político é igual”, discurso este que faz com que ela continue existindo e recebendo o poder que emana do povo brasileiro. A conversa de que “nem todo político é igual” põe termo a qualquer esperança que se possa ter de um futuro melhor para o Brasil, pois quando o povo brasileiro aceita que “nem todo político é igual”, o povo brasileiro continua elegendo políticos da classe política brasileira e a classe política brasileira é o grande inimigo do Brasil. 

Independentemente do espectro político, seja de Esquerda, Direita, baixo, cima, fora, dentro ou o que for, todas as pessoas que se envolvem com a política no Brasil são políticos brasileiros, os políticos brasileiros fazem política no Brasil e a política no Brasil é o esquecimento do povo brasileiro e a imposição de coisas ao povo brasileiro. A política brasileira é imunda e quem se insere nessa imundície, seja de qual partido ou ideologia política for, quer fazer e faz parte de tal imundície. “Nem todo político é igual” é a salvação de toda a classe política brasileira, é o discurso que um político faz e salva toda a classe política.

No Brasil os políticos de Esquerda não se preocupam se há uma política de Direita que pode ser melhor para o povo, os políticos de Direita não se preocupam se há uma política de Esquerda que pode ser melhor para o povo, os liberais não se preocupam se há uma política de Esquerda que pode ser melhor para o povo e político algum se preocupa em fazer realmente o melhor para o povo. Os políticos de Esquerda querem impor as ideologias de Esquerda, os políticos de Direita querem impor as ideologias de Direita, os liberais querem impor o liberalismo, os comunistas querem impor o comunismo e todo político quer impor algo ao povo brasileiro. A grande vantagem dos políticos brasileiros é que o povo brasileiro engoliu facilmente o esquema de votar em um para tirar o outro e assimilou como gado a brincadeira de guerra política e de querer “vencer” o “inimigo” político através das eleições. O povo brasileiro engoliu facilmente a artimanha da classe política que lhe fez ver determinados políticos e partidos como “inimigos” e que consequentemente lhe fez ver outros determinados políticos e partidos como “a cura” contra aqueles e é desta forma que a classe política se perpetua no poder: quando o povo elege uns em seu movimento contra outros.

A política brasileira é imunda e quem se envolve nela faz parte dela na forma como ela é. O Brasil só mudará quando o povo brasileiro que não está envolvido na imundície que é a política brasileira compreender que não existe “Direita Vs Esquerda”, “Liberais Vs Esquerda”, “Comunismo Vs Capitalismo”, “PT Vs PSDB” e qualquer combate entre políticos, partidos e ideologias políticas, mas que o único conflito que existe é a classe política brasileira contra o povo brasileiro. Enquanto o povo continuar engolindo a ladainha de que “nem todo político é igual” a classe política brasileira se perpetuará no poder e no comando do Brasil. O povo brasileiro é perpetuamente feito de idiota pelos políticos brasileiros ao acreditar que são os políticos brasileiros que lhe salvarão dos problemas criados pelos próprios partidos políticos brasileiros. Não existem “políticos bons” ou “partidos bons”, todos estes fazem parte da classe política brasileira e a classe política brasileira é a grande inimiga do Brasil. “Nem todo político é igual” faz com que ao final os políticos sempre vençam, pois sempre políticos serão eleitos. Enquanto o Brasil tiver esperança na sua classe política não haverá esperança para o Brasil. Todos os políticos brasileiros são políticos brasileiros.




Rudy Rafael





Fonte do Texto e da Gravura: rudyrafael.wordpress
E-mail: rudyrafael33@hotmail.com
Facebook: https://www.facebook.com/pages.rudyrafael
Twitter: https://twitter.com/rudyrafael
https://rudyrafael.wordpress.com/2016/01/31/nem-todo-politico-e-igual-como-o-povo-brasileiro-e-perpetuamente-feito-de-idiota/

segunda-feira, 1 de junho de 2015

LEMBRANÇAS (LENDAS MAL CONTADAS A RESPEITO DE HERÓIS DE BARRO)

O Rio Grande do Sul vive momentos inusitados ao mudar nomes de lugares que homenageavam presidentes que dirigiram o país em tempos de ditadura. Dizem ser politicamente correto, mas temos dois prismas antagônicos a ser observados aqui: uns odeiam a ditadura, outros nem tanto.

Pois bem, neste mesmo passo, já vi publicidade sobre escola que mudou de nome também, adotando um novo ícone como margem para idolatria de alguns: Che Guevara. Guevara era um médico argentino que subiu as cordilheiras e se aninhou na revolução cubana. Matou muita gente, inclusive uma boa quantidade de inocentes.

Era ele quem dizia que precisamos endurecer sem perder a ternura. Mas tudo serão lendas mal contadas a respeito de heróis de barro, que jamais se sustentariam depois de uma análise clara, objetiva e despolitizada.

Não duvido que, em breve, tenhamos algumas agências bancárias homenageando figuras de duvidosa moralidade. Sob este aspecto, graças devemos dar ao fato de Fidel ainda estar vivo. Quem sabe o tipo de homenagem que lhe serão prestadas depois de sua morte e a morte do regime político infame que instalou na ilha.

Eu tenho idade suficiente para ter vivido a ditadura na sua mais alta plenitude. Sobrevivi sem um tapa. Cresci ouvindo Chico Buarque cantando a música que jogava bosta na Geni. Vivi minha juventude com Caetano vendo discos voadores em Londres. Nem por isto morri. E, depois disso, nunca mais fizeram algo de novo.

A ditadura matou gente e Celso Daniel também morreu de forma estranha. Não tivemos heróis daquele passado, assim como não teremos heróis do regime que aí está. Entretanto, o que serve para nosso país a imagem e a idolatria a Che Guevara?

Hoje, sem idade para viver uma outra ditadura plena, temo pelo futuro dos meus. A memória da nação parece escoar distraída entre promessas que não se sustentam, e um ódio visceral ao passado que não apagará fichas criminais. Tivemos gente má na ditadura? Por certo que sim. Temos gente má nas atuais democracias sul-americanas? Com certeza, e já está ficando difícil contar. Evoluímos, como povo, como nação? Pelo meu passado, não!

Temos uma modernidade embalada em chips eletrônicos, dinheiro de plástico e nenhum respeito pelo passado, pela nossa formação e pela vida. Somos manobráveis como ovelhas num matadouro. Evoluímos para ser absoluta e simplesmente descartáveis.

Talvez chegue o dia em que nossas cidades mudem de nome, homenageando figuras ilustres da atualidade. São Paulo pode virar Lulópolis, quase na divisa com o município de Chavez, logo ao lado da promissora Vila Maduro. Guevara pode ser a estrada que ligará tudo isto.

Não sei onde vamos chegar com este modernismo vigiado pela internet. Apenas integramos uma monumental rede social. Estamos nos tornando nada.

O pior dessa aventura é que aqueles que esquecem do passado quase sempre não tem futuro. Não aprendemos com os erros. Apenas os substituímos  por erros modernizados que refletem uma mesma situação histórica que a humanidade já viveu em priscas eras. Essa idolatria nos idiotiza numa velocidade assustadora.

Sinto, entretanto, que este modelo de socialismo compartilhado em mentiras não terá um futuro longo. Os romanos perderam seu império, mas este durou mais de mil anos.

E os erros de todos os impérios caídos estão na história, assim como a estátua de Stalin.




Carlos Menezes





Fonte: Jornal "Litoral Notícias", edição 668, p. 2, 20/02/2015, Tramandaí/RS
www.lnjornal.com.br
Fonte da Gravura: Acervo de gravuras do Google

terça-feira, 2 de setembro de 2014

A ARTE DA FUGA

Quem leva a sério a opinião política dos artistas? Eu não. Deixei de o fazer com a ruína dos regimes totalitários.

Nas pinturas de Isaak Brodsky (sobre Lênin); nos filmes de Leni Riefenstahl (sobre Hitler); e nas telas de Alessandro Bruschetti (sobre Mussolini), a "arte política" deixou um testamento vergonhoso, que passou pela legitimação –melhor: pela exaltação das virtudes de psicopatas.

Exceções, sempre houve. Mas o casamento entre arte e política normalmente deu maus resultados. A "arte pela arte" não é apenas um bordão do século 19. É um conselho prudente para quem tem pretensões de se dedicar a ela.

Por isso ri alto com a carta aberta que 55 artistas enviaram à Fundação Bienal de São Paulo.

Ponto prévio: nenhuma pessoa adulta escreve cartas abertas em manada; quando falamos de artistas, ou pretensos artistas, a coisa ainda soa pior. Ou a arte vive da autonomia individual, ou não vive. Só covardes assinam em manada.

Mas os 55 revoltaram-se com o apoio financeiro que Israel concedeu à Bienal. Não querem dinheiro judeu porque acreditam que esse dinheiro, depois da guerra em Gaza, conspurca as suas integridades estéticas.

Se o dinheiro fosse da Autoridade Palestina, ou até do Hamas, talvez a conversa fosse outra. Não é. É de Israel.

Não vou regressar ao conflito entre Israel e o Hamas, que vive agora a sua trégua clássica antes do próximo confronto. Enquanto o mundo não entender direito a natureza islamita e jihadista do Hamas, não vale a pena gastar latim com o assunto.

Mas talvez não seja inútil fazer uma pergunta meramente teórica: de que vive a arte, afinal?

Arrisco uma resposta: a arte vive da liberdade. Um clichê sem grande importância?

Errado. Parafraseando Saul Bellow, eu gostaria de conhecer o Balzac dos zulus. Não conheço. Se Nova York, Londres ou Berlim são centros de excelência estética, isso deve-se à estabilidade política e à riqueza material de tais cidades.

E mesmo que a arte seja "engajada", o que já me parece uma corruptela da sua vocação, convém que o "engajamento" seja direcionado para os alvos certos.

Os 55 artistas da Bienal falham nos dois planos.

Começando pela liberdade, basta consultar os rankings da ONG Freedom House para 2014. Não vou cansar o leitor com números e mais números. Resumindo, digo apenas: Israel é o único país do Oriente Médio e do norte de África considerado "livre". O resto oscila entre "parcialmente livres" (Tunísia, Líbia, Kuait) e "não livres" (Iraque, Irã, Arábia Saudita).

E, para ficarmos na vizinhança de Israel, é a desgraça: Jordânia, Egito ou Síria continuam antros de repressão. Os 55 artistas, que deveriam defender a liberdade de expressão como quem defende o oxigênio, assinam uma carta contra o único país que respeita essa liberdade em todo o Oriente Médio.

E sobre os direitos humanos? Fato: Israel merece várias linhas de condenação nos relatórios anuais da Human Rights Watch, outra ONG independente. Mas nada que se compare ao comportamento dos mesmos países do Oriente Médio, para não falar da vizinhança em volta.

Um bom indicador do respeito pelos direitos humanos está no tema clássico da pena de morte. Israel aboliu-a para crimes civis. Do Egito à Jordânia, do Líbano à Autoridade Palestina, a execução judicial continua a verificar-se.

Digo "judicial" porque o Hamas, todos o sabemos, prefere fazer as coisas de forma "extrajudicial", fuzilando traidores no meio da rua.

De resto, será preciso dissertar sobre a diferença entre os "direitos" das mulheres ou dos homossexuais em Israel e nos países em volta? Será preciso recordar o histórico de amputações de membros e lapidações de adúlteras que existe por aquelas bandas?

E será preciso acrescentar alguma coisa à selvageria do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, que pelo visto não incomoda os 55 artistas da Bienal de São Paulo?

Criticar Israel é legítimo. Nenhum governo está acima da crítica. Transformar Israel em pária internacional é uma forma de cegueira antissemita.

Eu só respeitarei a "coragem" dos 55 artistas no dia em que eles viajarem para Bagdá, Riad ou Gaza e escreverem uma carta contra os governos locais. Em defesa da liberdade e dos "direitos humanos".

Isso, claro, se ainda tiverem mãos para escrever.




JOÃO PEREIRA COUTINHO (*)


(*) Escritor português, é doutor em Ciência Política. É colunista do 'Correio da Manhã', o maior diário português. Reuniu seus artigos para o Brasil no livro 'Avenida Paulista' (Record) e é também autor do ensaio 'As Ideias Conservadoras Explicadas a Revolucionários e Reacionários' (3 Estrelas). Escreve às terças na versão impressa e a cada duas semanas, às segundas, no site.



Fonte: Folha de S. Paulo
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/joaopereiracoutinho/2014/09/1509107-a-arte-da-fuga.shtml

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

IGNORÂNCIA PODE TER CURA

“O conflito palestino-israelense terminou desde o momento em que Israel aceitou o estabelecimento de um Estado palestino. O que existe agora é um conflito entre o terrorismo e o antiterrorismo.” (Shimon Peres)


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Como já disse o escritor Umberto Eco, “Nem todas as verdades são para todos os ouvidos”. No caso de extremistas, que só escutam a própria voz, a verdade é sempre assassinada, sobretudo por aqueles qualificados com o prefixo “anti” antes das palavras sionista, judaico e semita. Mas há situações em que se trata apenas de um típico pseudo-especialista: aquele que conclui, sem se aprofundar, e compartilha, sem raciocinar. Que se serve do “politicamente correto”, ora para agradar, ora para justificar. Que, por ter se tornado um momentâneo replicador de bobagens, não percebe que passou a ser leviano e inconsequente. Não importa se ele se autodenomina de esquerda, de direita, de centro ou não é nada. Dependendo do diagnóstico, e da boa vontade, esta ignorância pode ter cura. O importante é que ele tenha a mínima capacidade para, simplesmente, exercer o pensamento lógico. Então vamos lá:

Israel tem mais o que fazer do que participar de um confronto militar! O país possui a 22ª mais alta renda per capita do mundo, à frente da média da União Europeia; é o terceiro país com mais empresas listadas na Nasdaq, a bolsa de empresas de tecnologia, atrás apenas dos EUA e da China; possui a Teva, a maior empresa do mundo no segmento de medicamentos genéricos; se orgulha de ocupar a terceira posição entre os países que mais publicam artigos científicos/per capita; é destaque em número de patentes/per capita e, esta semana, jovens israelenses acabaram de conquistar a “Olimpíada Mundial de Matemática”. Por outro lado, de acordo com o jornal israelense Yedioth Ahronoth, nos últimos 30 dias a operação em Gaza provocou uma queda de 1,2% no PIB do país. Serão cerca de R$ 3,5 bilhões de prejuízo aos cofres públicos israelenses, sem contar os pesados investimentos na indústria bélica. Em Ashdod, Ashkelon e Sderot, as vendas chegaram a cair 70%. Em Tel Aviv, um terço. Será de US$ 1 bilhão a redução do valor arrecadado com o turismo. Ah, e o que dizer do fortíssimo recrudescimento do antissemitismo no mundo? E das lamentáveis mortes que já ocorreram? São tragédias irrecuperáveis! Então... para que Israel precisa de um conflito deste tipo???

Será que o governo Netanyahu está esperando um ganho político? Seria ingênuo acreditar que uma população bombardeada, que precisa correr a todo instante para abrigos antiaéreos, e que tem seus filhos na frente de batalha, estaria plenamente satisfeita, pensando exclusivamente em eleições. É evidente que cerca de 80% dos cidadãos israelenses só aprovam a operação militar porque não vislumbram outra alternativa. E isto não quer dizer que obrigatoriamente admirem o governo, mas sim que consideram esta operação militar um mal necessário para a sobrevivência - sua e do país. É como disse Golda Meir: “Se os palestinos abaixarem as armas, haverá paz. Se os israelenses abaixarem as armas, não haverá mais Israel". Com certeza, não serei nem eu, nem você, leitor, quem irá encontrar a solução mágica para resolver os problemas políticos, ideológicos, religiosos, territoriais e de recursos naturais daquele exíguo pedaço de terra...

Convém lembrar que, historicamente, Israel nunca iniciou uma guerra, assim como também nunca desrespeitou um cessar-fogo. No conflito atual, a autodefesa foi a única opção encontrada para evitar a morte de seus cidadãos. Por quantos anos Israel deveria ser atacado incessantemente por foguetes sem se manifestar? Quantos estudantes judeus teriam que ser sequestrados e brutalmente assassinados até Israel obter o legítimo direito da opinião pública para revidar? Quantos atentados a pizzarias ou a shoppings teria que aguentar para o contra-ataque ser justo? Vamos lembrar que, em novembro de 1947, a ONU decidiu pela “Partilha da Palestina”. Poucos meses depois, Israel declarou independência e, imediatamente, cinco nações árabes (Egito, Jordânia, Síria, Líbano e Iraque) invadiram o recém-criado país, em desrespeito flagrante à Resolução nº 181 da ONU. E o que aconteceu? Israel foi deixado à própria sorte pela comunidade internacional. Mas mesmo assim venceu a batalha. Em 1967, idem. Em 1973, em pleno Yom Kipur, idem. Na época, nem o "dia do perdão" foi respeitado, assim como hoje a cidade sagrada de Jerusalém é alvo de mísseis descontrolados. Os ganhos territoriais de Israel não vieram como consequência de uma iniciativa do país em atacar os árabes. Pelo contrário, foram resultado de ter sido invadido por eles, de forma covarde, insistente e desproporcional. E, mesmo assim, o país tenta dar a terra de volta em troca da paz, como fez com os egípcios, quando devolveu a Península do Sinai – que é maior do que o próprio território israelense –, e, da mesma forma, entregou a Faixa de Gaza aos palestinos. E o que recebeu em troca? Milhares de foguetes foram disparados a esmo contra a sua população civil... Volto a perguntar: para que Israel precisa de um conflito deste tipo??? Israel tem mais o que fazer do que participar de um confronto militar!

Por sua vez, o Hamas, enfraquecido internamente, fragilizado em termos regionais e dependente financeiramente do Qatar, tem grande interesse em se reerguer do pó. Em seu mais recente estudo/julho 2014, "Apreensões acerca do crescimento do extremismo islâmico no Oriente Médio", o Centro de Pesquisa do Pew Charitable Trusts analisou a opinião de 15 mil entrevistados, em 14 países, e concluiu que os palestinos são o povo mais radicalizado do Oriente Médio, quem sabe até do mundo, disposto a jogar tudo para o alto e se engajar em atividades lunáticas. Sobre a pergunta "Opinião dos palestinos sobre o Hamas", o resultado foi: em 2007, 62% favoráveis e 33% contrários; hoje: 35% e 53%, respectivamente. E, indagados sobre o islamismo em geral, uma maioria significativa (79%) se mostrou contrária. Porém, não são apenas os palestinos que criticam o Hamas. Veja a opinião do rei da Arábia Saudita, Abdullah Ibn Abdilaziz: “É um absurdo e uma desgraça o que estes terroristas estão fazendo em nome da nossa religião. Eles distorcem a imagem do Islã e trazem somente morte e destruição aos civis dos dois lados”. No entanto, para o Hamas, é imprescindível comprovar a todo custo que ele é o único grupo capaz de enfrentar o “eterno” inimigo israelense – e o mais bem preparado para exterminá-lo. Não é suficiente que demonstre esta intenção apenas na retórica; é preciso provocar e criar espaço na mídia para obter simpatia junto à opinião pública. Preste bem atenção ao que está escrito no estatuto do grupo: “A hora do julgamento não chegará até que os muçulmanos combatam os judeus e terminem por matá-los. E, mesmo que os judeus se abriguem por detrás de árvores e pedras, cada árvore e cada pedra gritará: ‘Oh! Muçulmanos, Oh! Servos de Alá, há um judeu por detrás de mim, venham e matem-o”. Em virtude deste compromisso público e formal, Israel passou a realizar um bloqueio terrestre, aéreo e marítimo para impedir que armas e matérias-primas cheguem aos membros do Hamas de forma contrabandeada. Como a Autoridade Palestina não tem o objetivo declarado de aniquilar Israel, não existe restrição semelhante na Cisjordânia.

Agora analise os objetivos do Hamas na visão de Mosab Hassan Yousef, filho de um dos fundadores do grupo: “O Hamas não é um partido político; nem sequer uma organização palestina. Ele sequestrou o que é chamado de 'causa palestina' e se infiltrou na sociedade para impor sua agenda político-ideológica. Eu gostaria de lembrar ao povo palestino o que o Hamas fez com o partido rival deles, o Fatah, em Gaza, quando o Hamas assumiu o controle alguns anos atrás: eles mataram os membros do Fatah do mesmo modo como estão matando soldados israelenses hoje. O Hamas não se importa com as vidas dos palestinos. Não pense por um segundo, por favor, que o Hamas se importa com o sangue das crianças. Eles querem que as crianças de Gaza morram. Isto é o que dá a eles a simpatia do mundo árabe e islâmico; e isto é o que condena Israel internacionalmente. Este é o jogo deles, e eles estão felizes com isso. Israel faz a eles o maior favor de lutar contra essa organização terrorista”. Certamente, o bem-estar da população de Gaza está longe de ser a prioridade da liderança do Hamas, que entende o povo como instrumento para alcançar seus objetivos: dizimar os judeus, criar um estado teocrático e enriquecer pessoalmente através da corrupção. Cada um dos 32 túneis destruídos por Israel custou cerca de US$ 3 milhões, demandou milhares de homens-horas e utilizou muitas toneladas de concreto. Se o Hamas tivesse o mínimo de preocupação social, usaria pelo menos parte deste dinheiro para construir escolas e hospitais para a população - em grande parte vivendo abaixo da linha da pobreza e com um índice de desemprego de 40%. Talvez por isto a última pesquisa de opinião feita com moradores de Gaza, antes do conflito, tenha detectado que 73% deles apoiam um entendimento pacífico com Israel. No entanto, para o Hamas, não tem conversa: a culpa é (e sempre será) do “inimigo sionista”! Para reforçar esta teoria, e tentar se manter de forma implacável no poder, o desesperado grupo não encontrou outro recurso a não ser provocar o conflito. A pergunta que não quer calar é: o que organizações terroristas como o Hamas, o Al Qaeda, o ISIS, o Hezbollah o Jihad Islâmico, entre outras, fizeram até hoje em benefício de seu povo ou da humanidade?

O ex-“Prêmio Nobel” israelense, Shimon Peres, definiu bem: “O conflito palestino-israelense terminou desde o momento em que Israel aceitou o estabelecimento de um Estado palestino. O que existe agora é um conflito entre o terrorismo e o antiterrorismo”. Caro leitor: os terroristas usam imensa criatividade para justificar os ataques a Israel. Amanhã, toda esta imaginação pode ter outro alvo: você! Cito as palavras de Martin Niemöller: “Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista. Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata. Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse".






Artigo de Mauro Wainstock
Jornalista e palestrante
mauro@mwcomunicacaoempresarial.com.br





Fonte: www.mwcomunicacaoempresarial.com.br
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

terça-feira, 29 de julho de 2014

IGNOMÍNIA

Será que certos setores da esquerda brasileira estariam trilhando também esse caminho da ignomínia?


Todos os recursos do Hamas são canalizados para o treinamento militar.

Certa cobertura jornalística e posicionamentos de determinados governantes, aí incluindo a diplomacia brasileira, deveriam fazer parte de uma história da ignomínia. Versões tomam o lugar de fatos, a ideologia vilipendia a verdade e terroristas são considerados como vítimas inocentes.

Os episódios protagonizados pela ONU, em Gaza, deveriam escandalizar qualquer pessoa sensata. Em duas escolas da ONU foram encontrados foguetes, lá depositados pelos grupos jihadhistas. Supõe-se que lá não chegaram caminhando sozinhos, mas contaram com uma explícita colaboração de funcionários da própria organização internacional. Trata-se de uma clara violação da lei internacional.

A ONU, curiosamente, não quis fornecer as fotos desses foguetes, pois elas teriam forte impacto midiático, mostrando o pouco caso do Hamas com as crianças e mulheres que diz, para a imprensa internacional, defender. Ou seja, a organização fez o jogo do terror, pretendendo, porém, apresentar-se como neutra. Ademais, posteriormente, entregou os mesmos foguetes para as “autoridades governamentais”, isto é, o próprio Hamas!

Nada muito diferente do que aconteceu na guerra passada. Durante semanas fomos bombardeados, com manchetes, de que uma sede da ONU teria sido bombardeada pelas Forças Armadas de Israel. Era uma mentira deslavada. A própria organização internacional demorou, no entanto, 30 dias para fazer o desmentido. Como assim? O desmentido apareceu um mês depois nas páginas internas de jornais, como uma pequena notícia irrelevante. O estrago midiático foi feito com a colaboração da própria ONU.

E quando digo que o Hamas não se preocupa com a vida de crianças, idosos e mulheres quando fala para a imprensa internacional, refiro-me apenas a um fato. Em seu estatuto, essa organização terrorista prega abertamente a “educação” das crianças para a “guerra santa”, inculcando em suas mentes que devem estar preparadas para o martírio.

Várias lideranças do Hamas também têm dito claramente que elas utilizam mulheres e crianças como “escudos humanos”, embora a sua apresentação seja, evidentemente, a do combate pelo Islã, onde vidas devem ser sacrificadas. Por que divulgação não é dada a este fato?

As Forças Armadas israelenses são cuidadosas do ponto de vista de preservação de vidas humanas. Telefonam e enviam mensagens às populações das áreas que serão bombardeadas. Ocorre que o Hamas impede que essas pessoas possam escapar, com o intuito de produzir o maior número de vítimas civis, que logo serão filmadas e fotografadas. São essas imagens que serão utilizadas para a formação da opinião pública mundial. É macabro!

O Terror se caracteriza por não ter nenhuma preocupação com a vida dos civis. Assim é com os mais de dois mil foguetes lançados contra o Estado de Israel. Assim é com os comandos que foram enviados para assassinar a população civil dos kibutzim próximos à fronteira. Assim é com os palestinos que se tornam reféns e vítimas dessa estratégia terrorista.

O Hamas se mistura com a população civil. Utiliza escolas, mesquitas, instalações da ONU e hospitais como esconderijos de armamentos e bases de seus ataques. Seus dirigentes máximos estão alojados em um bunker em um hospital na cidade de Gaza. Vivem também em seus túneis, que são inacessíveis para a população civil que, lá, poderia se proteger.

O Estatuto do Hamas é um claro libelo antissemita, que busca pura e simplesmente a destruição do Estado judeu: “Israel existirá e continuará existindo até que o Islã o faça desaparecer, como fez desaparecer a todos aqueles que existiram anteriormente a ele.”

O seu alvo são os judeus e os cristãos. Aliás, esses últimos já são as vítimas do terror por organizações jihadistas na Síria e no Iraque. Assim está escrito: “Fazei o bem e proibis o mal, e credes em Alá. Se somente os povos do Livro (isto é, judeus [e cristãos]) tivessem crido, teria sido melhor para eles. Alguns deles creem, mas a maioria deles é iníqua.”

Para eles, os judeus fazem parte de uma grande conspiração internacional, à qual terminam associando também os cristãos. Utilizam, para tal fim, um livro antissemita do século XIX, forjado pela polícia czarista, para justificar o massacre de judeus. Eis o Estatuto: “O plano deles está exposto nos Protocolos dos Sábios de Sião, e o comportamento deles no presente é a melhor prova daquilo que lá está dito.” Mais clareza impossível, porém alguns teimam em não ler. É a miopia ideológica.

Enganam-se redondamente os que dizem que o Hamas procura a negociação. Para eles: “Não há solução para o problema palestino a não ser pela jihad (guerra santa)”, isto é, o extermínio dos judeus.

Israel aceitou todas as propostas de cessar-fogo, relutando, mesmo, em empreender a invasão terrestre. O que fez o Hamas: não cessou o lançamento de foguetes e rompeu todas as tréguas. Aliás, foi coerente com os seus estatutos: “Iniciativas de paz, propostas e conferências internacionais são perda de tempo e uma farsa.”

Neste contexto, falar de “desproporcionalidade” na resposta militar israelense revela desconhecimento ou má-fé. O país não poderia continuar vivendo sob o fogo de foguetes, como se aos judeus estivesse destinado viver debaixo da terra, em abrigos subterrâneos. Aliás, essa é uma boa distinção entre Israel e o Hamas. Os abrigos são para os civis, enquanto em Gaza são para os terroristas.

Observe-se que todos os recursos do Hamas são canalizados para o treinamento militar, a construção de túneis (agora de ataque) e a compra de armamentos e foguetes. O resultado está aí: a miséria de sua população.

As manifestações pró-Hamas que tiveram lugar em Paris tiveram a “virtude” de mostrar sua natureza antissemita, onde se misturam declarações contra o capitalismo, morte aos judeus e ataque a sinagogas. Tiveram, por assim dizer, o “mérito” da coerência. Esse setor da esquerda se associa ao terror, expondo toda a sua podridão. Será que certos setores da esquerda brasileira estariam trilhando também esse caminho da ignomínia?






Denis Lerrer Rosenfield
(professor de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul)





Fonte: Jornal "O Globo"
www.oglobo.com.br

terça-feira, 15 de julho de 2014

FATOS JOGADOS PARA DEBAIXO DO TAPETE 1 (A LENDA DA DEMOCRACIA)

O Exército põe o dedo numa ferida que boa parte da esquerda sempre jogou debaixo do tapete: todos os grupos que participaram da luta armada queriam derrubar a ditadura militar para instalar uma ditadura de viés comunista ou socialista. Ninguém pensava em reconduzir ao poder o presidente deposto, João Goulart. Mas a esquerda acabou criando a lenda de que todos os grupos buscavam a democracia. 

Outra questão é o envolvimento – pequeno, mas verdadeiro – de guerrilheiros de esquerda com o terrorismo, ou seja, com ações contra a população, e não apenas o inimigo militar. 

Por fim, estão relatados casos em que militantes de esquerda foram assassinados por seus próprios companheiros, como Márcio Leite de Toledo e Carlos Alberto Maciel Cardoso, ambos da ALN (Aliança Libertadora Nacional), e Francisco Jacques Moreira de Alvarenga, da RAN (Resistência Armada Nacional). 

O justiçamento de companheiros de luta, praticado por alguns grupos, ainda hoje é um tabu para a esquerda. 





Fonte: Helio Rosa, citando parte da entrevista do jornalista Lucas de Figueiredo http://www.wirelessbrasil.org/bloco_cidadania/secoes/orvil.html)

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

O OUTRO LADO DA HISTÓRIA - - - A REVOLUÇÃO SILENCIOSA

Não espere tanques, fuzis e estado de sítio.

Não espere campos de concentração e emissoras de rádio, tevês e as redações ocupadas pelos agentes da supressão das liberdades.

Não espere tanques nas ruas.

Não espere os oficiais do regime com uniformes verdes e estrelinha vermelha circulando nas cidades.

Não espere nada diferente do que estamos vendo há pelo menos duas décadas.

Não espere porque você não vai encontrar, ao menos por enquanto.

A revolução comunista no Brasil já começou e não tem a face historicamente conhecida. Ela é bem diferente. É hoje silenciosa e sorrateira. Sua meta é o subdesenvolvimento. Sua meta é que não possamos decolar.

Age na degradação dos princípios e do pensar das pessoas. Corrói a valorização do trabalho honesto, da pesquisa e da ordem.

Para seus líderes, sociedade onde é preciso ser ordeiro não é democrática.

Para seus pregadores, país onde há mais deveres do que direitos, não serve.

Tem que ser o contrário para que mais parasitas se nutram do Estado e de suas indenizações.

Essa revolução impede as pessoas de sonharem com uma vida econômica melhor, porque quem cresce na vida, quem começa a ter mais, deixa de ser "humano" e passa a ser um capitalista safado e explorador dos outros.

Ter é incompatível com o ser. Esse é o princípio que estamos presenciando.

Todos têm de acreditar nesses valores deturpados que só impedem a evolução das pessoas e, por consequência, o despertar de um país e de um povo que deveriam estar lá na frente.

Vai ser triste ver o uso político-ideológico que as escolas brasileiras farão das disciplinas de filosofia e sociologia, tornadas obrigatórias no ensino médio (...).

A decisão é do ministério da Educação, onde não são poucos os adoradores do regime cubano mantidos com dinheiro público. Quando a norma entrar em vigor, será uma farra para aqueles que sonham com uma sociedade cada vez menos livre, mais estatizada e onde o moderno é circular com a camiseta de um idiota totalitário como Che Guevara.

A constatação que faço é simples.

Hoje, mesmo sem essa malfadada determinação governamental - que é óbvio faz parte da revolução silenciosa - as crianças brasileiras já sofrem um bombardeio ideológico diário.

Elas vêm sendo submetidas ao lixo pedagógico do socialismo, do mofo, do atraso, que vê no coletivismo econômico a saída para todos os males. E pouco importa que este modelo não tenha produzido uma única nação onde suas práticas melhoraram a vida da maioria da população. Ao contrário, ele sempre descamba para o genocídio ou a pobreza absoluta para quase todos.

No Brasil, são as escolas os principais agentes do serviço sujo.

São elas as donas da lavagem cerebral da revolução silenciosa.

Há exceções, é claro, que se perdem na bruma dos simpatizantes vermelhos.

Perdi a conta de quantas vezes já denunciei nos espaços que ocupo no rádio, tevê e internet, escolas caras de Porto Alegre recebendo freis betos e mantendo professores que ensinam às cabecinhas em formação que o bandido não é o que invade e destrói a produção, e sim o invadido, um facínora que "tem" e é "dono" de algo, enquanto outros nada têm.

Como se houvesse relação de causa e efeito.

Recebi de Bagé, interior do Rio Grande do Sul, o livro "Geografia", obrigatório na 5ª série do primeiro grau no Colégio Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora. Os autores são Antonio Aparecido e Hugo Montenegro.

O Auxiliadora é uma escola tradicional na região, que fica em frente à praça central da cidade e onde muita gente boa se esforça para manter os filhos buscando uma educação de qualidade.

Através desse livro, as crianças aprendem que propriedades grandes são de "alguns" e que assentamentos e pequenas propriedades familiares "são de todos".

Aprendem que "trabalhar livre, sem patrão" é "benefício de toda a comunidade". Aprendem que assentamentos são "uma forma de organização mais solidária... do que nas grandes propriedades rurais".

E também aprendem a ler um enorme texto de... adivinhe quem? João Pedro Stédile, o líder do criminoso MST que há pouco tempo sugeriu o assassinato dos produtores rurais brasileiros.

O mesmo líder que incentiva a invasão, destruição e o roubo do que aos outros pertence. Ele relata como funciona o movimento e se embriaga em  palavras ao descrever que "meninos e meninas, a nova geração de assentados... formam filas na frente da escola, cantam o hino do Movimento dos Sem-Terra e assistem ao hasteamento da bandeira do MST".

Essa é "a revolução silenciosa" a que me refiro, que faz um texto lixo dentro de um livro lixo parar na mesa de crianças, cujas consciências em formação deveriam ser respeitadas.

Nada mais totalitário. Nada mais antidemocrático. Serviria direitinho em uma escola de inspiração nazifascista.

Tristes são as consequências.

Um grupo de pais está indignado com a escola, mas não consegue se organizar minimamente para protestar e tirar essa porcaria travestida de livro didático do currículo do colégio.

Alguns até reclamam, mas muitos que se tocaram da podridão travestida de ensino têm vergonha de serem vistos como diferentes. Eles não são minoria, eles não estão errados, mas sentem-se assim.

A revolução silenciosa avança e o guarda de quarteirão é o medo do que possam pensar deles.

O antídoto para "A revolução silenciosa"? Botar a boca no trombone, alertar, denunciar, fazer pensar, incomodar os agentes da "Stazi" silenciosa.

Não há silêncio que resista ao barulho!




Diego Casagrande  
Jornalista em Porto Alegre/RS



Fonte: http://www.averdadesufocada.com/index.php/vale-a-pena-ler-de-novo-especial-86/3837-2309-a-revoluo-silenciosa
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

domingo, 15 de abril de 2012

DESESCRAVIZAÇÃO: UMA HISTÓRIA CONTADA PELA METADE

“... a abolição libertou os brancos do fardo da escravidão e abandonou os negros à sua própria sorte.” (Florestan Fernandes)

A crise da escravidão no Brasil foi um processo lento e incerto. Teve início com o Bill Aberdeen, de 1845, e com a Lei Eusébio de Queirós, de 1850.

Com o fim do tráfico internacional, a escravidão entrava em progressivo colapso, auxiliada pelo processo de decadência do Império, e para defender esse sistema de trabalho a aristocracia escravista recorria ainda a todos os instrumentos possíveis, da violência à política.

Marcante no Brasil e que impulsionou para acabar com a escravidão foi o chamado Movimento Abolicionista. Os escravos sempre lutaram contra a escravidão, porém, a partir de meados do séc. XIX, essa luta passou a empolgar também uma parcela da população livre urbana. O estímulo deveu-se a uma série de acontecimentos internacionais, dentre eles, destaca-se, a oposição inglesa à escravidão e que ia abrindo espaço à reafirmação dos princípios liberais de igualdade jurídica, muito apreciado pelos abolicionistas.

Setores urbanos também juntaram-se ao movimento quando começaram a perceber que a relação entre o fim da escravidão e desgraça econômica era uma habilidosa montagem de ideias visando desarmar os opositores à escravidão.

Sabe-se que o grande contingente de escravos concentrados na região Nordeste teve como elemento causador a economia açucareira do início da colonização. Entretanto, esse quadro começou a mudar com a queda do comércio açucareiro e o deslocamento da matriz econômica do Nordeste para o Sudeste, com o crescimento e a valorização do café. Devido à cultura do café houve um aumento significativo do número de escravos em São Paulo, trazendo consigo todas as pressões e tensões relativas ao trabalho forçado.

Tais pressões e tensões tinham como motivos: - a contradição entre a fé cristã e a prática da escravatura, - a contradição entre liberalismo e a escravidão, ou seja, os ideais de liberdade e igualdade sociais e jurídicas, princípios básicos do liberalismo, se confrontavam com a realidade de pelo menos 40% da população que não era contemplada com esses direitos, e - a tensão por detrás do trabalho forçado, ou seja, a oposição e resistência dos escravos, das mais variadas formas, motivadas pela conscientização e desejo da possibilidade da conquista da liberdade.

Assim, ia se processando uma mudança de mentalidade do Estado em relação à escravidão que iria afetar: - a questão dos magistrados, - uma forte pressão externa, uma crescente luta dos escravos por sua própria integridade; e - uma divisão entre fazendeiros do Nordeste e Sudeste.

E a luta pela emancipação acontecia, então, em meio às disputas entre o governo e a classe dos proprietários rurais e no bojo dos acontecimentos sociais da época.

Surgia ainda a Lei do Ventre Livre, em 1871, que por sua vez também garantia oficialmente o direito à compra da liberdade e à prática do Estado na libertação de seus escravos. A aprovação dessa lei deveu-se muito ao grande número de representantes políticos do Nordeste que, com o deslocamento de escravos de sua região para o Sudeste, provocados pela corrida do café, deixaram de temer a questão abolicionista.

Pelas pressões externas e internas, portanto, a escravidão ia, aos poucos, se desorganizando. E isso tomava força porque os escravos também estavam se inserindo na realidade de uma construção de consciência nacional e de cidadãos, principalmente pela apropriação da língua e costumes.

Assim sendo, quando a Lei Áurea foi promulgada (1888), apenas ratificou toda essa situação, o que não deu, de fato, por encerrado a escravatura no Brasil.

Cabe aqui destacar que a figura da Princesa Isabel não possui nada de bondosa; ela assinou a Lei somente porque não havia outra alternativa a partir de fortes pressões e contextos sociais, políticos e econômicos nacionais e internacionais, principalmente devido ao processo civilizatório. A ciência historiográfica faz cair por terra ídolos forjados, tanto por interesses diversos e obscuros, quanto por ignorância.

É importante trazer à tona que, ao contrário do que afirmavam os escravocratas, o país não mergulhou no caos com o fim da escravidão. Na verdade, foram os interesses dos escravocratas que foram frustrados.

Em suma, para os negros libertos foi grande, e continuou a ser, a dificuldade de integração na sociedade. Enfrentando um racismo mal-encoberto, sem oportunidades de melhorar a situação material, os negros formaram a camada mais explorada das classes populares. E mesmo com dificuldades e sacrifícios tentavam eliminar tudo o que lembrasse a escravidão.

A difícil relação entre senhores e escravos agora tomava a forma de discriminação entre brancos e negros. Estava se consolidando o racismo, a marginalização e a discriminação racial e social contra o negro; realidade esta que se prolonga até hoje.


Prof. Hermes Edgar Machado Jr. (Issarrar Ben Kanaan)



Referências e sugestões bibliográficas:
  • “Da Monarquia à República: momentos decisivos”, Emilia Viotti da Costa
  • “Brasil: Síntese da Evolução Social”, Aluysio Sampaio
  • “História Sincera da República”, Leoncio Basbaum
  • “A Abolição”, Emilia Viotti da Costa
  • “O Sistema Colonial”, José Roberto do Amaral Lapa
  • “Brasil Império”, Hamilton M. Monteiro
  • “História do Brasil Imperial”, Luiz Roberto Lopez
  • “Evolução Social do Brasil”, Nelson Werneck Sodré
  • “Formação Histórica do Brasil”, Nelson Werneck Sodré


    Fonte da imagem:  Acervo de autoria pessoal