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segunda-feira, 1 de junho de 2015

LEMBRANÇAS (LENDAS MAL CONTADAS A RESPEITO DE HERÓIS DE BARRO)

O Rio Grande do Sul vive momentos inusitados ao mudar nomes de lugares que homenageavam presidentes que dirigiram o país em tempos de ditadura. Dizem ser politicamente correto, mas temos dois prismas antagônicos a ser observados aqui: uns odeiam a ditadura, outros nem tanto.

Pois bem, neste mesmo passo, já vi publicidade sobre escola que mudou de nome também, adotando um novo ícone como margem para idolatria de alguns: Che Guevara. Guevara era um médico argentino que subiu as cordilheiras e se aninhou na revolução cubana. Matou muita gente, inclusive uma boa quantidade de inocentes.

Era ele quem dizia que precisamos endurecer sem perder a ternura. Mas tudo serão lendas mal contadas a respeito de heróis de barro, que jamais se sustentariam depois de uma análise clara, objetiva e despolitizada.

Não duvido que, em breve, tenhamos algumas agências bancárias homenageando figuras de duvidosa moralidade. Sob este aspecto, graças devemos dar ao fato de Fidel ainda estar vivo. Quem sabe o tipo de homenagem que lhe serão prestadas depois de sua morte e a morte do regime político infame que instalou na ilha.

Eu tenho idade suficiente para ter vivido a ditadura na sua mais alta plenitude. Sobrevivi sem um tapa. Cresci ouvindo Chico Buarque cantando a música que jogava bosta na Geni. Vivi minha juventude com Caetano vendo discos voadores em Londres. Nem por isto morri. E, depois disso, nunca mais fizeram algo de novo.

A ditadura matou gente e Celso Daniel também morreu de forma estranha. Não tivemos heróis daquele passado, assim como não teremos heróis do regime que aí está. Entretanto, o que serve para nosso país a imagem e a idolatria a Che Guevara?

Hoje, sem idade para viver uma outra ditadura plena, temo pelo futuro dos meus. A memória da nação parece escoar distraída entre promessas que não se sustentam, e um ódio visceral ao passado que não apagará fichas criminais. Tivemos gente má na ditadura? Por certo que sim. Temos gente má nas atuais democracias sul-americanas? Com certeza, e já está ficando difícil contar. Evoluímos, como povo, como nação? Pelo meu passado, não!

Temos uma modernidade embalada em chips eletrônicos, dinheiro de plástico e nenhum respeito pelo passado, pela nossa formação e pela vida. Somos manobráveis como ovelhas num matadouro. Evoluímos para ser absoluta e simplesmente descartáveis.

Talvez chegue o dia em que nossas cidades mudem de nome, homenageando figuras ilustres da atualidade. São Paulo pode virar Lulópolis, quase na divisa com o município de Chavez, logo ao lado da promissora Vila Maduro. Guevara pode ser a estrada que ligará tudo isto.

Não sei onde vamos chegar com este modernismo vigiado pela internet. Apenas integramos uma monumental rede social. Estamos nos tornando nada.

O pior dessa aventura é que aqueles que esquecem do passado quase sempre não tem futuro. Não aprendemos com os erros. Apenas os substituímos  por erros modernizados que refletem uma mesma situação histórica que a humanidade já viveu em priscas eras. Essa idolatria nos idiotiza numa velocidade assustadora.

Sinto, entretanto, que este modelo de socialismo compartilhado em mentiras não terá um futuro longo. Os romanos perderam seu império, mas este durou mais de mil anos.

E os erros de todos os impérios caídos estão na história, assim como a estátua de Stalin.




Carlos Menezes





Fonte: Jornal "Litoral Notícias", edição 668, p. 2, 20/02/2015, Tramandaí/RS
www.lnjornal.com.br
Fonte da Gravura: Acervo de gravuras do Google

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O PASSADO E O FUTURO DO PT (Uma aula de história!)

O PT nasceu de cesariana, há 29 anos (quando foi escrito este artigo). O pai foi o movimento sindical, e a mãe, a Igreja Católica, através das Comunidades Eclesiais de Base.

Os orgulhosos padrinhos foram, primeiro, o general Golbery do Couto e Silva, que viu dar certo seu projeto de dividir a oposição brasileira.

Da árvore frondosa do MDB nasceram o PMDB, o PDT, o PTB e o PT... Foi um dos únicos projetos bem-sucedidos do desastrado estrategista que foi o general Golbery.

Outros orgulhosos padrinhos foram os intelectuais, basicamente paulistas e cariocas, felizes de poder participar do crescimento e um partido puro, nascido na mais nobre das classes sociais, segundo eles: o proletariado.

O PT cresceu como criança mimada, manhosa, voluntariosa e birrenta. Não gostava do capitalismo, preferia o socialismo. Era revolucionário. Dizia que não queria chegar ao poder, mas denunciar os erros das elites brasileiras.

O PT lançava e elegia candidatos, mas não "dançava conforme a música". Não fazia acordos, não participava de coalizões, não gostava de alianças. Era uma gente pura, ética, que não se misturava com picaretas.

O PT entrou na juventude como muitos outros jovens: mimado, chato e brigando com o mundo adulto.

Mas nos estados, o partido começava a ganhar prefeituras e governos, fruto de alianças, conversas e conchavos. E assim os petistas passaram a se relacionar com empresários, empreiteiros, banqueiros.

Tudo muito chique, conforme o figurino.

E em 2002 o PT ingressou finalmente na maioridade. Ganhou a presidência da República. Para isso, teve que se livrar de antigos companheiros, amizades problemáticas. Teve que abrir mão de convicções, amigos de fé, irmãos camaradas.

A primeira desilusão se deu entre intelectuais. Gente da mais alta estirpe, como Francisco de Oliveira, Leandro Konder e Carlos Nelson Coutinho, se afastou do partido, seguida de um grupo liderado por Plinio de Arruda Sampaio Junior.

Em seguida, foi a vez da esquerda. A expulsão de Heloisa Helena em 2004 levou junto Luciana Genro e Chico Alencar, entre outros, que fundaram o PSOL.

Os militantes ligados a Igreja Católica também começaram a se afastar, primeiro aqueles ligados ao deputado Chico Alencar, em seguida, Frei Betto. E agora, bem mais recentemente, o senador Flávio Arns, de fortíssimas ligações familiares com a Igreja Católica.

Os ambientalistas, por sua vez, começam a se retirar a partir do desligamento da senadora Marina Silva do partido.

Afinal, quem do grupo fundador ficará no PT? Os sindicalistas.

Por isso é que se diz que o PT está cada vez mais parecido com o velho PTB de antes de 64.

Controlado pelos pelegos, todos aboletados nos ministérios, nas diretorias e nos conselhos das estatais, sempre nas proximidades do presidente da República.

Recebendo polpudos salários, mantendo relações delicadas com o empresariado. Cavando benefícios para os seus. Aliando-se ao coronelismo mais arcaico, o novo PT não vai desaparecer, porque está fortemente enraizado na administração pública dos estados e municípios. Além do governo federal, naturalmente.

É o triunfo da pelegada.




Lucia Hippolito

Cientista política, historiadora, consultora, jornalista e conferencista. Comentarista política com atuação destacada no rádio e televisão.





Fonte: http://universobh.wordpress.com/2014/01/17/pt-uma-urgente-aula-de-historia-lucia-hippolito/
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

quinta-feira, 12 de abril de 2012

O INTEGRALISMO (FASCISMO TUPINIQUIM OU VERDE-AMARELO)


No princípio do século 20, mais precisamente em 1929, a partir da quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, uma crise econômica espalhava-se pelo mundo, causando desemprego, diminuição dos salários e desconforto social. Conflitos políticos internacionais acabavam, obviamente, refletindo-se no Brasil. O nazismo e o fascismo, como oposição ao socialismo, cresciam apoiados pela alta burguesia e como meios e tentativas de superar a essa crise político-econômica.

O nazifascismo, então, chegou ao Brasil, e na primeira metade do século 20, em 1932, dentro do contexto dos acontecimentos europeus e inspirado principalmente no fascismo italiano, nascia a Ação Integralista Brasileira (AIB), através de um Manifesto à Nação Brasileira, de autoria do escritor Plínio Salgado e a partir de reuniões de vários grupos da direita política.

O Manifesto preconizava uma ditadura ultra nacionalista, um partido único, a obediência a um único chefe e a crença na famosa apologia “Deus, Pátria e Família”, que é o chauvinismo da civilização cristã e do patriarcalismo, ou seja, a crença (narcisista) exagerada e tendenciosa de que o país ou grupo ao qual se está inserido é o melhor em qualquer aspecto do que os outros. Seu conteúdo programático atacava ainda, com violência, o liberalismo burguês e o socialismo. O Estado deveria ser autoritário e extremamente nacionalista.

O principal apoio às ideias integralistas vinha dos setores mais conservadores da sociedade: das oligarquias tradicionais (latifundiários e grandes capitalistas), da alta hierarquia militar, da Igreja Católica e inclusive de parte da classe média descontente.

Como era inspirada no fascismo europeu, a AIB pregava o ódio aos comunistas; o “perigo vermelho” estava por toda a parte. As manifestações esquerdistas tomavam vulto no Brasil, e os integralistas, como seu modelo italiano, formavam grupos paramilitares (os “camisas-verdes”), agindo violentamente para dissolver as manifestações dos esquerdistas.

Sua organização se inspirava em modelos militares, com obediência rígida à hierarquia, culto ao chefe, militantes fardados, bandeiras, símbolos e saudações com o braço levantado e o grito “anauê”. Viam-se pelas ruas marchas, manifestações e ataques armados aos “contrários” à sua doutrina ou aos acusados apenas de serem comunistas.

Entretanto, mesmo com muitas inspirações estruturais e modelo nazi fascista, deve ser realçado que o integralismo e o nazifascismo são dois projetos com visões diferentes em certos aspectos. Este tinha o apoio do grande capital e buscava a expansão econômico-industrial sem se importar com as consequências, enquanto aquele visava uma “volta ao campo”.

É sabido no que resultou a ascensão do nazifascismo. Entre 1939 e 1945, a Segunda Guerra Mundial tirou a vida de cerca de 60 milhões de seres humanos, sem contar os mutilados, traumatizados e torturados. Junte-se a isto a destruição material, a fome e as crises consequentes.

Muitos dos que se uniam ao integralismo eram seduzidos pelo programa nacionalista e pela ideia de criar um Estado acima de classes sociais e em “benefício” de ricos e pobres. O capitalismo financeiro, para isto, deveria ser extirpado. E de igual maneira como o nazismo difundia, o mal estava principalmente depositado nas costas dos judeus, tese esta formulada a partir da deformação intencional dos fatos históricos e sociais. O antissemitismo, na visão historiográfica do mundo, sempre esteve presente nas ideologias totalitárias, pois o “mal” (os judeus) deveria dar lugar ao “bem”. É o racismo ariano potencializado a partir de crises econômicas e por mentes preconceituosas. Aliás, o antissemitismo tem uma de suas vertentes no antigo mito medieval do “judeu malvado”, onde os judeus eram responsabilizados por todos os males que aconteciam na Alemanha. Mas isto é temática para outro artigo e foge do contexto deste.

Enfim, com Getúlio Vargas nesse tempo chegando ao poder, os integralistas viam o Brasil rumando para a direita e indo ao encontro de suas ideias. Mas esta euforia integralista durou pouco, pois Getúlio Vargas, com o Estado Novo, decretou a extinção dos partidos políticos no Brasil e os integralistas não chegaram a ocupar cargos na política brasileira. Como era de se esperar, e a partir de sua tendência belicosa, os integralistas tentaram derrubar o governo em março de 1938, o que resultou em fracasso. Mais tarde, em maio do mesmo ano, um novo levante integralista, conhecido como intentona integralista, entrava em ação, e mais uma vez resultou em fracasso. Plínio Salgado continuou em liberdade, e em janeiro de 1939 foi para o exílio, em Portugal.

Cabe a pergunta: poderia haver um regime sociopolítico ideal ou mais conveniente para uma nação e seu desenvolvimento?

O Totalitarismo sempre pregou e se orgulhou de possuir muitas vantagens. Por exemplo: a centralização do poder como facilitação do controle geral das atividades, sem dispersão; o impedimento de discussões improdutivas, principalmente entre políticos corruptos; o controle das disputas de cargos públicos; a aplicação de leis sem a interferência das câmaras e do senado que são lerdos e se perdem em discussões ideológicas, esquecendo-se do bem comum, e assim por diante.

Mas tudo isto apresentou e apresenta problemas, pois para que possa funcionar deve impôr controle à liberdade de pensamento, de associação e de locomoção. Além do mais, o coletivo fica restrito ao pensamento de um ou de poucos no poder; a iniciativa é tolhida.

Em suma, é perfeitamente visível que a liberdade em demasia é degenerante e em tudo promove desordem. Seria necessário que o povo fosse de grande cultura e principalmente de elevado caráter para que a liberdade não se tornasse libertinagem, corrupção e exploração. A absoluta liberdade é caótica nos atuais moldes de nossa civilização e aspirações da humanidade. A norma ainda é de uma liberdade de se fazer o que deve ser feito, e não a liberdade de se fazer o que quiser. Enquanto isto, a história nos mostra um aglomerado de ideologias político-econômicas na tentativa de ser (ou impôr) a mais perfeita.

Prof. Hermes Edgar Machado Jr. (Issarrar Ben Kanaan)



Referências e Sugestões Bibliográficas:
  • “Pequena História da República”, Cruz Costa
  • “O Brasil Contemporâneo”, Sandra Jatahy Pesavento
  • “História do Brasil Contemporâneo”, Luiz Roberto Lopez
  • “História do Século XX”, Paulo Fagundes Vizentini
  • “Brasil em Perspectiva”, Carlos Guilherme Mota (org.)
  • “O Inimigo Eleito: os judeus, o poder e o antissemitismo”, Júlio José Chiavenato
  • “Getúlio Vargas e sua Época”, Antonio Augusto Faria e Edgard Luiz de Barros
  • “A História Crítica da Nação Brasileira”, Renato Mocellin
  • “Dicionário de História do Brasil”, Moacyr Flores
  • “Convite à Filosofia”, Marilena Chaui


    Fonte da imagem: Acervo de autoria pessoal