Mostrando postagens com marcador história. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador história. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

A EPOPEIA DE GILGAMESH E A LENDA DO DILÚVIO BÍBLICO


Uma das lendas mais fantásticas dos povos sumérios e que mostram a riqueza de sua literatura foi a Epopeia de Gilgamesh. Possivelmente a obra literária mais antiga já produzida pelos seres humanos, ela é composta por doze cantos com cerca de 300 versos cada um. A lenda conta a história de Gilgamesh, rei sumério e fundador da cidade de Uruk que governou a região por volta do ano 2.700 a.C. Esta epopeia é conhecida graças à descoberta de uma placa de argila escrita em caracteres cuneiformes em ruínas da região mesopotâmica, sendo traduzida por volta de 1890 d.C.

A trajetória de Gilgamesh o mostra como um grande conhecedor das coisas do mundo, inclusive de sua origem e de coisas existentes nas profundezas dos mares. Mas o rei Gilgamesh era despótico e dentre as várias obrigações que impunha a seu povo encontrava-se a construção de uma gigantesca muralha fortificada ao longo da cidade de Uruk. O povo amedrontado com o trabalho imensamente fatigante clamou pela ajuda da deusa Ishtar, que os ouviu e enviou Enkidu. Este, que era protegido da deusa e vivia nas florestas de cedros, deveria desafiar e vencer Gilgamesh em um duelo, matando-o em seguida. Ao chegar ao palácio do rei, iniciou o combate. Entretanto, não houve vitoriosos, sendo que Gilgamesh e Enkidu se tornaram amigos. A amizade os levou a diversas aventuras, destruindo monstros e harmonizando o mundo.

Porém, Ishtar sentiu ciúmes da amizade e tentou seduzir Gilgamesh que, sabendo que aquele que amasse a deusa morreria, não aceitou ser seu amante. A deusa com muita ira pela recusa decidiu matar o amigo de Gilgamesh, Enkidu, infligindo a ele uma doença que o deixou agonizando por doze dias antes de morrer. Com a perda do amigo, Gilgamesh resolveu ir atrás de novas aventuras, o que o levou a encontrar Utnapishtim, um homem imortal que revelou um triste mistério dos deuses: em tempos remotos os deuses haviam decidido submergir a terra de Shuruppak, mas que ele, pela sua devoção, havia recebido ordens de construir uma arca no meio do deserto e abrigar seus familiares, amigos e os quadrúpedes e aves de sua escolha. Utnapishtim assim o fez e, depois de seis dias e seis noites, salvou as pessoas e os animais, conseguindo em troca a imortalidade.

Esse trecho da Epopeia de Gilgamesh é um dos mais conhecidos e influenciou várias lendas na Antiguidade oriental, inclusive a lenda bíblica do dilúvio hebreu, famosa pela arca de Noé. Sendo a produção da Epopeia de Gilgamesh anterior à história bíblica, pode-se perceber a influência que a cultura suméria exerceu sobre os povos da Mesopotâmia e do Oriente Médio.

Gilgamesh ainda tentou conseguir a imortalidade, chegando inclusive a descer ao fundo do mar em busca de uma planta que seria capaz de evitar sua morte. Mas o rei perdeu a planta no caminho e, com medo da morte, já em sua cidade Uruk, evocou seu amigo Enkidu, que lhe contou sobre a vida no mundo das trevas.

A epopeia se tornou famosa no mundo pela sua antiguidade e pela semelhança com a lenda do dilúvio bíblico hebreu.



Fonte: Publicado por Tales dos Santos Pinto em "Mundo Educação"
https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/a-epopeia-gilgamesh-diluvio.htm
Fonte da Gravura: https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/conteudo/images/as-tabuas-epopeia-gilgamesh-foram-encontradas-na-biblioteca-ninive-construida-mando-assurbanipal-5a211e2b343ae.jpg

A EPOPEIA DE GILGAMESH - A PRIMEIRA VERSÃO DO GÊNESIS?


As milhares de placas encontradas nas escavações em Nínive, em 1849, foram levadas para o Museu Britânico, em Londres e ficaram sob a responsabilidade de Henry Rawlinson. Havia pouco tempo que ele decifrara o cuneiforme. Coube a George Smith, auxiliar de Rawlinson no museu e perito na decifração do cuneiforme, fazer a segunda grande descoberta: em 1872, diante de uma plateia de especialistas, ele leu a 11ª. tabuinha que narrava sobre um dilúvio devastador do qual somente um homem sobreviveu. A revelação causou impacto entre especialistas, teólogos e o público leigo. Mais surpresas vieram com a decifração de outras tabuinhas: Araru, a deusa criadora do homem, o mito Enuma elish, o poema da criação, e o mito de Adapa, o homem que recusou a imortalidade – personagem que, para alguns estudiosos, seria o Adão bíblico.

O impacto dessas descobertas desafiavam a erudição literária e bíblica e lançavam para tempos mais longínquos a história da humanidade. A Epopeia de Gilgamesh já circulava por volta de 2.100 a.C., mas era muito anterior a essa data. Diante dessa datação, todas as literaturas ditas, então, como as primeiras da história, mostravam-se bem mais recentes. As narrativas do Pentateuco ou Torá, a parte mais antiga do Velho Testamento, são do I Milênio, e a versão hebraica da Bíblia teria sido redigida entre os séculos VIII e V a.C., principalmente no tempo do rei Josias (640-609 a.C.). Por sua vez, os poemas épicos Ilíada e Odisseia, atribuídos a Homero, remontam aos séculos IX e VIII a.C. Muito já se pesquisou e escreveu sobre a influência da Epopeia de Gilgamesh sobre a escrita do Gênesis chegando a se questionar a veracidade dos textos bíblicos.

Por outro lado, a epopeia que chegou a nós também não é original, mas um compilado de lendas e poemas onde se misturaram  tradições culturais de sumérios, acádios, assírios e babilônicos. Foram encontradas cópias do poema em regiões diversas da antiga Mesopotâmia, da Palestina e da Turquia, e nem todas as versões coincidem. Enfim, tanto a epopeia de Gilgamesh quanto o livro do Gênesis poderiam ter sido influenciados por histórias ainda mais antigas e difundidas no Oriente.

Como lembra Fernand Braudel: “O passado das civilizações nada mais é que a história dos empréstimos que elas fizeram uma às outras ao longo dos séculos…”


Profa. Joelza Ester Domingues



Fonte: Blog "Ensinar"
https://ensinarhistoriajoelza.com.br/gilgamesh-a-historia-mais-antiga-do-mundo/
Fonte da Gravura: https://apaixonadosporhistoria.com.br/img/galeria/galeria_677345565.jpg

quinta-feira, 20 de agosto de 2020


Os Cavaleiros Templários


Os Cavaleiros Templários tiveram origem nas Cruzadas da Idade Média. Como é de conhecimento geral, as Cruzadas foram uma série de expedições à Síria e à Palestina, esta última denominada Terra Santa. Consistiam de “devotos e intrépidos reis cavaleiros”, bem como clérigos, soldados e simples camponeses. Seu intuito era libertar ou recuperar a Terra Santa, a terra natal de Cristo, daqueles que os cruzados chamavam de “turcos infiéis”.

Nesse período em particular, o cristianismo ocidental significava a Igreja Católica Romana; não havia outras igrejas cristãs conhecidas. Todas as religiões ou crenças não-cristãs, em conformidade com a intolerância que então prevalecia, eram consideradas pagãs e, seus seguidores, infiéis. No sentido literal, pagão é o indivíduo que não reconhece o Deus da revelação. Todavia, um pagão não é necessariamente ateu. Mas, na opinião dos cristãos daquela época uma pessoa devota que concebe Deus no sentido panteísta, ou como consciência universal, é pagã. Com toda certeza, todos os não-cristãos eram assim considerados.

Parecia uma irreverência, um sacrilégio, para os cristãos, que locais relacionados com o nascimento do Cristo estivessem sob o domínio de alguma autoridade não-cristã. Pequenos bandos de peregrinos, durante anos antes das Cruzadas, haviam viajado para a Palestina, com o fim de visitar os santuários. Em sua devoção e primitiva crença, imaginavam que tais visitas lhes trariam uma graça espiritual, assegurando-lhes bênçãos especiais no outro mundo.

Atravessaram eles regiões agrestes, onde praticamente não havia lei e ordem. E punham em risco a sua segurança, viajando principalmente a pé. Em consequência, eram assaltados, roubados, mortos por bandidos que os atacavam. Esses fatos, chegaram ao conhecimento da Europa Ocidental e da cristandade e tornaram-se incentivo para as cruzadas.

Durante os séculos doze e treze, cada geração formou pelo menos um grande exército de cruzados. Além desses enormes exércitos, que às vezes chegavam a trezentos mil homens, haviam “pequenos bandos de peregrinos ou Soldados da Cruz”. Durante aproximadamente duzentos anos, houve um fluxo quase contínuo de reis, príncipes, nobres, cavaleiros, clérigos, e gente do povo da Inglaterra, da França, da Alemanha, da Espanha, e da Itália para a Ásia menor. Ostensivamente, essas migrações tinham fins religiosos, levando consigo, como já dissemos, muitos aventureiros, cujo objetivo era de explorar. Assassinos e ladrões viajavam para a Terra Santa e roubavam, pilhavam e violavam mulheres.

Os muçulmanos, devotos e respeitadores da lei, cuja cultura era muito superior a da Europa na época, ficavam chocados com a conduta desses “cristãos”. Era de se esperar que protegessem suas famílias e propriedades desses saqueadores religiosos. Assim, por sua vez, matavam os peregrinos ou os expulsavam. Sem dúvida, muitos peregrinos inocentes perderam a vida por causa da reputação criada pela conduta de alguns de seus companheiros. Os povos não-cristãos do Oriente Próximo não podiam distinguir os peregrinos que tinham nobres propósitos daqueles cujos objetivos eram perversos.


A Primeira Cruzada

Tomando conhecimento desta situação, Papa Urbano II, em 1095, em Clemont, França, exortou o povo a iniciar a primeira grande Cruzada.

Conclamou os cavaleiros e nobres feudais a cessarem a guerra que travavam entre si e socorressem os cristãos que viviam no Oriente. “Tomai a estrada para o Santo Sepulcro; arrebatai a região à raça perversa e sujeitai-a ao vosso domínio”. Consta que, quando o Papa terminou de falar, a vasta multidão que o escutava clamou quase uníssono: “É a Vontade de Deus!”. Esta frase tornou-se depois o grito de guerra da heterogênea massa que formou o exército da Cruzada. Aqueles homens estavam convictos de que estavam obedecendo à vontade de Deus, de modo que brutalidade, assassínio, estupro e pilhagem, nas terras do Oriente, estavam justificados por sua missão.

Era impossível aqueles milhares de homens levarem consigo alimento suficiente para a viagem, visto que esta durava vários meses, em condições muito difíceis. Portanto, eram eles obrigados a buscar sustento nas terras que invadiam. Muitas pessoas inocentes do Oriente, não-cristãs, eram assassinadas, seu gado lhes era tomado e suas casas saqueadas, para o sustento dos cruzados, que sobre elas se abatiam como nuvem de devoradores gafanhotos. Naturalmente, a retaliação vinha rápida e violenta. Muitos cruzados foram mortos pelos húngaros, que reagiram para se proteger contra a depredação causada pelas hordas que passavam por sua região.

O espírito de avareza ou cobiça aproveitou-se das circunstâncias. Muitos cruzados procuravam seguir para a Palestina e a Síria por mar, a fim de evitar a viagem mais longa, toda feita por terra. Ricos mercadores das prósperas cidades de Veneza e Gênova tramaram conceder aos cruzados "livre" passagem para a Síria e a Palestina. Mas exigiam dos peregrinos o compromisso de exclusividade de comércio em qualquer cidade por eles conquistadas. Isto permitiria a esses mercadores ocidentais manter centros comerciais no Oriente, obtendo então excelentes produtos do seu artesanato. As jóias, a cerâmica, a seda. A especiaria, mobília e os bordados do Oriente eram superiores a tudo o que se produzia na Europa Ocidental da época.

Das cruzadas emergiam muitas curiosas ordens religiosas e militares. Duas das mais importantes foram os Hospitalários e os Templários. Essas ordens “combinavam dois interesses dominantes da época, o monge e o soldado”. Durante a primeira Cruzada foi formada, de uma associação monástica, a ordem conhecida como os Hospitalários. Seu objetivo era de socorrer os pobres e enfermos dentre os peregrinos que viajavam para o Oriente.


Cruz de Malta: o emblema


Posteriormente, a Ordem admitia cavaleiros, além dos monges, e depois se tornou uma ordem militar. Os monges usavam uma cruz em sua veste e andavam com uma espada à cinta. Lutavam, quando necessário, embora se dedicassem principalmente em socorrer os peregrinos doentes. Receberam doações de terras, nos países do Ocidente. Também construíram e controlaram mosteiros fortificados, na Terra Santa. No século treze, quando a Síria, principalmente, foi evacuada pelos cristãos, os Hospitalários mudaram sua sede para a ilha de Rodes e, mais tarde, para Malta. Esta Ordem ainda existe e seu emblema é a Cruz de Malta.

A outra ordem tinha o nome de Cavaleiros Templários, ou “Cavaleiros Pobres de Cristo e do Templo de Salomão”. Esta ordem não foi fundada para fins de auxílio terapêutico. Desde sua formação, era uma ordem militar. Seus fundadores foram Hugues de Pyens, um cavaleiro bolonhês, e Geoffroi de Saint-Omer, um cavaleiro francês.

No começo do século doze, assumiram eles a proteção dos peregrinos que se dirigiam a Jerusalém. Pretendiam realmente construir uma escolta armada para esses grupos. Mais tarde, sete outros cavaleiros se uniram a eles. Esses nove cavaleiros se constituíram numa “comunidade religiosa”. Fizeram um juramento solene ao Patriarca de Jerusalém, no qual se comprometeram a guardar estradas públicas e abandonar o cavalheirismo terreno; seu juramento incluía um voto de castidade, abstinência e pobreza.

A missão dos Templários arrebatou a imaginação, não só dos homens livres de classes inferiores, mas também de altas autoridades seculares e no seio da Igreja. Balduino I, Rei de Jerusalém, cedeu parte do seu palácio a essa Ordem de monges-guerreiros. Esse palácio era adjacente à Mesquita de Al-Aka, o chamado Templo de Salomão. Devido a esta localização os componentes da Ordem passaram a ser chamados Cavaleiros Templários ou Cavaleiros do Templo. A princípio, não usavam uniformes, nem qualquer hábito especial; usavam suas roupas costumeiras. Depois, passaram a usar uma veste branca com a dupla cruz vermelha. O primeiro ato que atraiu atenção mundial para eles foi o seu esforço para redimir cavaleiros excomungados.

Muitos cavaleiros haviam violado seu alto código de cavalheirismo, em expedições à Terra Santa, e haviam sido excomungados pela Igreja. Os Templários procuraram redimi-los e introduzi-los em sua Ordem. Assumiram também a missão de impedir que trapaceiros, assassinos, perjuros e aventureiros, explorassem a Terra Santa.

Um outro ato, no início, colocou os cavaleiros em atrito com o clero. Os Templários tentaram conseguir imunidade a excomunhão por párocos e bispos.

O dirigente principal da Ordem era denominado “Mestre do Templo de Jerusalém”. Mais tarde passou a Grande Mestre da Ordem em Chipre. A autoridade desse Grande Mestre era considerável, mas não era absoluta. Tinha ele de consultar a maioria dos Templários, em questões como, por exemplo, declarações de guerra. Por muitos anos os Templários mantiveram-se em guerra contra os “infiéis”. Os chamados infiéis eram principalmente os sarracenos, a se aliar, por vários meios e particularmente como indivíduos, às famílias reinantes da Europa. “Um Grande Mestre era padrinho de uma filha de Luiz IX”. “Um outro era padrinho de um filho de Felipe IV”. Sua influência se fez sentir em meio ao clero, pois os Templários eram convocados a participar nos concílios privativos da Igreja, como o Concílio Lateranense de 1215.


Banqueiros e Financistas

Uma curiosa função, totalmente distinta de seu objetivo declarado, mas que era um sinal de poder, foi a de que os Templários se tornaram os grandes financistas e banqueiros da época. Consta que seu Templo de Paris era o centro do mercado financeiro mundial. Nesse banco, papas e reis depositaram seu dinheiro. Os Templários ingressaram com êxito no mercado de câmbio com o Oriente. Essa foi talvez a primeira de tais empresas na Europa. Não cobravam juros sobre empréstimo, pois, a agiotagem era proibida – declarada imoral pela Igreja e a Coroa. Aluguéis superiores aos valores usuais para empréstimos sob hipoteca eram uma espécie de juro tolerada.

A história registra que os Templários atingiram o ápice do seu poder pouco antes de sua ruína. Com efeito, haviam eles se tornado uma “igreja dentro da igreja”. Isto acabou provocando uma desavença com o Papa Bonifácio VIII. No dia 10 de agosto de 1303, o rei se aliou ao chefe dos Templários, contra o Papa. Esse mesmo rei, Philippe, acabou traindo os Templários. Havia ele sofrido um grande prejuízo financeiro e não conseguia recuperar seus recursos. Imaginou, então, que a supressão dos Cavaleiros Templários lhe seria vantajosa; assim, planejou unir todas as ordens, sob a sua autoridade.

Primeiro era necessário, pensava ele, desacreditar os Templários. Procurou realizar seu intento proclamando que a Ordem era herética e imoral. Introduziu espiões na Ordem, os quais, segundo consta, cometeram perjúrio revelando os ritos, juramentos e cerimônias que os mesmos profanavam o cristianismo. O público em geral sabia que os Templários tinham ritos secretos, mas não conheciam realmente sua verdadeira natureza. Havia rumores infundados de que esses ritos eram lascivos e blasfemos. Portanto, as declarações dos espiões perjuros do Rei Philippe pareceram confirmar os boatos.

O Papa não se demonstrou inclinado a acreditar naqueles relatos que lhe eram transmitidos através das tramas de Philippe e tomar providências em função dos mesmos. Então o rei, astutamente, apresentou suas inventadas queixas à Inquisição, que na época, prevalecia na França. A Inquisição tinha o poder de agir sem consultar o Papa. Em consequência, o Grande Inquisidor exigiu a prisão dos Templários. No dia 14 de setembro de 1307, Philippe determinou que os membros da Ordem dos Templários fossem capturados.


Jacques de Molay


A 6 de junho de 1306, Jacques de Molay, Grande Mestre dos Templários de Chipre, consultava o Papa Clemente V sobre “a perspectiva de uma nova cruzada”. Aproveitou o ensejo para denunciar as acusações que estavam sendo feitas contra os Templários, e partiu. Durante todo o tempo em que lhes eram imputadas incriminações, os Templários não se defenderam. Seis meses depois, Jacques de Molay e sessenta de seus companheiros foram presos e forçados a confessar. Primeiro, os oficiais do rei os torturaram. Em seguida, entregaram-no aos inquisidores da Igreja, para que fossem ainda mais torturados. Muitos desses Templários eram idosos e morreram em decorrência da desumana crueldade a eles infligida por aqueles representantes da Igreja. As confissões que lhes eram arrancadas eram falsas; haviam eles sido forçados a confessar atos de irreverência e heresia. O Grande Mestre foi obrigado a escrever uma carta em que admitia ter cometido atos contra a Igreja.

O Papa acabou sancionando os atos dos inquisidores e ordenou a prisão dos Templários em toda a cristandade. É possível que tenha se sentido inseguro quanto à medida que tomara, pois, mais tarde, determinou uma nova Inquisição para reconsiderar as acusações contra os Templários, acreditando que teriam um julgamento justo. Os Templários abjuraram suas confissões anteriores, em que tinham sido feitas sob coação. Sofreram, porém, amarga decepção! A retratação de suas confissões era passível de punição com a morte na fogueira, castigo que muitos foram obrigados a sofrer.

No dia 14 de março de 1314, Jacques de Molay, o Grande Mestre, e outro Templário, foram levados a um cadafalso “erguido em frente a Notre Dame”. Deviam então confessar sua culpa, ante os legados papais e o povo. Ao invés disto, retrataram-se de suas confissões e tentaram defender os Templários diante da grande multidão que assistia ao processo. Proclamaram a inocência da Ordem. Foi imediatamente ordenado, então, que eles fossem queimados. E assim foram executados, com a aprovação da Igreja Romana.

Que haviam os Templários realizado? Muitos lhes atribuíram o impedimento da propagação do poder islâmico na Europa. Talvez eles tenham realmente contribuído para isto, mas é discutível a questão de que a propagação da cultura islâmica na Europa teria sido prejudicial. Geralmente, admitem os historiadores que a civilização teria avançado séculos se tivesse sido permitido que a sabedoria dos muçulmanos se propagasse pela Europa, naquela época. Foram necessários vários séculos de progresso do conhecimento, na Europa, para igualar e superar o conhecimento que os muçulmanos então possuíam. Os povos islâmicos eram os preservadores do conhecimento original dos gregos e dos egípcios.

Talvez a maior realização dos Templários tenha sido o estímulo à virtude entre bravos e fortes. Muitos cavaleiros haviam adquirido muito conhecimento nos países orientais, durante as Cruzadas. Tinham descoberto que havia no Oriente uma civilização superior à que existia na mais rude sociedade do Ocidente cristão.

Muitos Templários foram secretamente iniciados nas escolas de mistérios do Oriente, onde lhes foi revelada a sabedoria do passado. Embora constituíssem uma Ordem cristã, os Templários eram independentes da Igreja, no sentido de que esta não dominava o seu pensamento. Muitos se tornaram Templários porque, dentro da esfera de influência e proteção da Ordem, podiam estudar e desenvolver um conhecimento que não ousavam, como indivíduos, estudar e desenvolver fora dessa esfera. As pessoas de mentalidade liberal tinham na Ordem dos Cavaleiros Templários uma espécie de refúgio. Foram estes estudos, a investigação intelectual e os rituais místicos, que provavelmente deram crédito ao boato de que os Templários eram hereges.

Segundo a tradição, muitos cavaleiros Cruzaram o Umbral da Ordem Rosacruz e a ela se afiliaram os que eram membros de escolas esotéricas. Muitos cavaleiros tiveram coragem de investigar os campos de conhecimento que suas incursões por países orientais haviam possibilitado. E esse conhecimento ultrapassava as limitadas fronteiras de investigação da Igreja.



Fonte: Ordem Rosacruz - AMORC
https://www.amorc.org.br/os-cavaleiros-templarios/


Fonte das Gravuras:
https://www.altoastral.com.br/wp-content/uploads/2017/01/templarios_shutterstockimages.jpg
https://www.alamy.com/stock-photo-jacques-de-molay-knights-templar-grand-master-135095667.html
https://img2.gratispng.com/20180722/rv/kisspng-knights-templar-symbol-cross-clip-art-5b554bd62438b9.5421600215323166301484.jpg

quinta-feira, 23 de abril de 2015

ISRAEL: 67 ANOS !

Israel está comemorando 67 anos! Muitos leitores deste artigo certamente já festejaram mais aniversários do que este minúsculo país, com apenas 22.072 km² (menor do que o estado de Sergipe e ainda tendo 60% deste total ocupado por deserto) e 8,1 milhões de cidadãos (sendo 75,3% judeus). Para você ter uma ideia, os 22 estados árabes possuem 350 milhões de habitantes, enquanto os 60 países islâmicos já somam 1,2 bilhão de seguidores.

Se os números são desproporcionais, o desenvolvimento também é. Israel teve deflação de 0,2% em 2014; a economia cresceu 3,2% na média dos três últimos anos; o país possui uma invejável renda per capita de quase US$ 35 mil e índice de qualidade de vida de 0,888 - um dos mais elevados do mundo. Considerada a “cidade que nunca para”, Tel Aviv conquistou recentemente o “Prêmio Mundial de Cidades Inteligentes”. Apesar de ser obrigado a investir cerca 10% do PIB na defesa do país, Israel é o país que mais gasta com pesquisa e desenvolvimento (P&D): são 4,4% do seu PIB, quase o dobro da média (2,4%) dos 34 países desenvolvidos que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Toda empresa multinacional de tecnologia do mundo tem um centro de P&D em Israel, incluindo Intel, IBM, Microsoft, Google, Facebook e Apple. O país também possui mais empresas listadas na Bolsa Eletrônica “Nasdaq” do que toda a comunidade europeia junta, tem a maior porcentagem/per capita de computadores pessoais e ainda é um dos líderes globais em comunicações, ciências da vida, desenvolvimento de softwares e em cibersegurança. A comparação com o Vale do Silício, na Califórnia, é inevitável, já que possui o segundo maior número de companhias startups no mundo, logo depois dos Estados Unidos. Foram cientistas israelenses que criaram, por exemplo, o telefone celular (laboratório da Motorola), a tecnologia de chips para o processador Pentium (laboratório da Intel), o sistema de armazenamento de voz (“voice mail”), o primeiro programa antivírus para computadores e o ICQ, programa de comunicação instantânea pioneiro na Internet. Há três meses, a Apple inaugurou um centro de pesquisa e desenvolvimento em Israel, na cidade de Herzliya - o segundo maior da empresa no mundo e que está gerando mais de 700 empregos diretos. "Temos uma enorme admiração por Israel como lugar para fazer negócios", afirmou na ocasião Tim Cook, CEO da Apple.

Apesar dos limitados recursos naturais, o intensivo desenvolvimento industrial e da agricultura ao longo das últimas décadas fez com que Israel se tornasse amplamente autossuficiente na produção de alimentos. Ele é reconhecido mundialmente por suas tecnologias de ponta em reuso, dessalinização e controle de perdas de água. É, também, o único país que terminou o século XX com mais árvores do que o iniciou. E o primeiro no ranking mundial/per capita, tanto em números de artigos científicos como em patentes de equipamentos médicos. Foi uma empresa israelense que desenvolveu o exame de sangue que permite diagnosticar ataques cardíacos por telefone; o primeiro sistema para detecção de câncer de mama isento de radiação e monitorado por computador; a primeira filmadora em forma de cápsula ingerível, que permite o exame do intestino delgado; e o diagnóstico de câncer e de disfunções digestivas. Agora imagine um adesivo para o tratamento de diabetes que substitui a necessidade das injeções diárias; uma forma de diagnosticar câncer de pulmão apenas pela respiração, uma maneira de aplicar drogas para tumores usando a nanotecnologia ao invés da quimioterapia ou um dispositivo a laser do tamanho de um barbeador elétrico que alivia a dor e cura feridas no conforto de sua própria casa. Esses dispositivos já existem ou estão em fase de desenvolvimento. Entre os muitos judeus que têm contribuído significativamente para a humanidade, em todas as áreas do pensamento, estão Albert Sabin (vacina contra a poliomielite), Arthur Solomon Loevenhart (um dos responsáveis pelos medicamentos contra a sífilis), Selman Abraham (descobriu a estreptomicina, valorosa no tratamento da tuberculose), além de Albert Einstein (teoria da relatividade), Siegried Marcus (criou o motor à gasolina) e Sigmund Freud (psicanálise), só para citar alguns. Enfim, contando com apenas 0,2% da população mundial, os judeus já conquistaram 22% de todos os “Prêmios Nobel”.

Em termos educacionais, Israel também se destaca: possui o maior percentual em número de diplomas de curso superior e centros de referências em várias especialidades, como os institutos Technion (Tecnologia) e Weizmann (Ciências), além da Universidade Hebraica de Jerusalém, que está entre as 100 melhores do mundo. E quando o assunto é esporte, Israel disputa torneios com os países europeus, mas ainda assim faz bonito: o time Maccabi Tel Aviv já se sagrou campeão da “Copa Intercontinental”, foi vice-campeão mundial em 2014, quando perdeu para o Flamengo, e ganhou o campeonato europeu de basquetebol seis vezes (é o segundo clube com mais conquistas da Euroliga na história). Também foi a primeira equipe europeia a vencer uma equipe da NBA em solo norte-americano. Por outro lado, a “Macabíada”, principal evento esportivo do mundo judaico, é o terceiro maior do mundo em número de atletas. Nas competições individuais, porém, uma surpresa: o campeão mundial Gary Gasparov, considerado o “Rei do Xadrez”, revelou que, apesar da fama, já foi discriminado por ser judeu.

Por sua riquíssima cultura milenar, Israel tem muitos motivos para ser aplaudido de pé, seja na música, na dança e na criatividade. É inacreditável como há alguns anos realiza o “Festival de Ópera” em... Massada - local que é um monte rochoso, palco de uma batalha histórica. Fica a cerca de 520 metros acima do Mar Morto, ou seja, seria totalmente impróprio para qualquer tipo de evento. Por outro lado, no cinema, são judeus cineastas como Steven Spielberg, atores do porte de Michael Douglas e Barbra Streisand, e humoristas que inspiraram novas formas de fazer comédia, como os Irmãos Marx, Charles Chaplin, Jerry Lewis, Woody Allen e Jerry Seinfeld. Talvez você não saiba, mas dois judeus, Jerry Siegel e Joe Suster, criaram o Super-Homem; um judeu, Bob Kane, inventou o Batman; e Stan Lee, o mais famoso autor do mundo dos quadrinhos, também judeu, é o responsável por personagens como Hulk e Homem-Aranha. E tem mais: o Capitão América foi desenvolvido pelos judeus Joe Simon e Jack Kirby.

No quesito política, Israel se orgulha da democracia e pluralidade, absorvendo as mais variadas ideologias, etnias, credos, gêneros e religiões. Os árabes, por exemplo, são a terceira maior força no Parlamento, possuindo 14 cadeiras de um total de 120, assim como as mulheres têm voz ativa, com 29 representantes. E por falar nelas: há uma “Miss Israel” negra (etíope) e uma líder religiosa lésbica. Já a jornalista árabe-muçulmana Lucy Aharish, acenderá uma das tochas na cerimônia no “Dia da Independência”, que este ano acontecerá em Jerusalém. No país, todos os grupos são respeitados e acolhidos: Tel Aviv, por exemplo, já conquistou várias vezes o título de “melhor destino gay”.

O respeito à diversidade é uma das características do povo judeu, eternizado com a criação do Estado Judeu. O brasileiro Osvaldo Aranha foi quem “bateu o martelo”. Outro nome importante na história política brasileira foi o do jornalista judeu Vladimir Herzog - encontrado morto nas dependências do 2ª Exército. Hoje temos um embaixador de Israel no Brasil de origem drusa e, este ano, nas comemorações do “Dia Nacional da Imigração Judaica” (18 de março), houve uma homenagem ao senador Aarão Steinbruch, já falecido, autor da lei que criou o “13º salário”, sancionada pelo então presidente João Goulart em 1962. O parlamentar também foi o “pai” da aposentadoria por tempo de serviço.

Mas o relevante papel de judeus na construção da sociedade brasileira data muito antes disto. Em 1412, o infante D. Henrique, ao fundar a Escola de Sagres, trouxe o judeu Iehudá Crescas para ensinar aos pilotos portugueses fundamentos da navegação, produção e manejo de cartas e instrumentos náuticos. Mais tarde, outros judeus colaboraram, como José Vizinho, mestre Rodrigo e Abraham Zacuto, que planejou a viagem de Vasco da Gama às Índias. Sua contribuição possibilitou as viagens transoceânicas e as descobertas marítimas de Portugal. Na frota de Cabral, viajaram como conselheiros pelo menos dois judeus: Mestre João, para pesquisas astronômicas e geográficas, e Gaspar de Lemos (ou da Gama), que foi considerado corresponsável pelo descobrimento. Segundo alguns historiadores, o próprio Cabral, originário de Belmonte, conhecida cidade de marranos, teria origem judaica. Em 1503 o judeu Fernando de Noronha liderou um grupo de judeus portugueses que apresentou a D. Manuel a primeira proposta de colonização do novo território.

Com o passar dos anos, muitos hábitos, provérbios e até mesmo superstições judaicas se incorporaram à cultura popular brasileira, como as expressões "ficar a ver navios", “vestir a carapuça” e "passar a mão na cabeça" - esta última relacionada ao ato judaico de abençoar alguém colocando as duas mãos sobre sua cabeça ao mesmo tempo em que se pronuncia uma breve oração em hebraico. Outras curiosas contribuições de origem judaica, desta vez na culinária, foram a carne de sol e a tapioca. No entanto, com as perseguições, muitos judeus precisaram esconder essa condição e alteraram seus nomes para não serem denunciados, torturados e mortos. Os chamados “cristãos-novos” passaram a se chamar, por exemplo, Alves, Andrade, Alencar, Amaral, Aguiar, Arruda, Bezerra, Brito, Botelho, Cabral, Carvalho, Cardoso, Costa, Duarte, Fonseca, Gomes, Linhares, Machado, Mendes, Oliveira, Pinto, Pereira, Rodrigues, Santos, Silva, Soares, Vasconcelos, Viana, Vieira, entre tantos outros, cujos descendentes se espalharam por todo o território nacional.

Hoje, o Brasil recebe tecnologia de ponta israelense para a agricultura do nordeste brasileiro e expertise em segurança para ser aplicada na segurança de grandes eventos. Os países possuem parceria econômica, inclusive no Mercosul; intercâmbios educativos, como o projeto “Ciência sem Fronteiras”, que tem a participação de muitos israelenses; programas do Instituto Weizmann de Ciências, que leva brasileiros para cursos especializados em Israel; e concursos sobre o Holocausto, promovidos por entidades judaicas que premiam professores e estudantes das escolas públicas. Além disto, a comunidade judaica atua em variados programas solidários, como o que o Hospital Israelita Albert Einstein desenvolve na Comunidade de Paraisópolis (São Paulo), que beneficia 6 mil moradores com atendimento médico de vanguarda, atividades socioeducativas e assistência biopsicossocial.

Enfim, a terra é árida, e mesmo assim Israel se destaca em questões agrícolas. Não há recursos, e o país desenvolveu alternativas para o combustível. Está cercado por inimigos, e sua tecnologia militar é usada como fonte de inspiração para empresas inovarem... Mundo: deixe Israel viver. Deixe os judeus ajudarem a construir um mundo melhor. A humanidade consciente agradece!




Mauro Wainstock, jornalista





Fonte: ALEF News/Israel e o mundo judaico
22 de abril de 2015, Edição 2014, Ano 20
http://www.alefnews.com.br/

quarta-feira, 4 de março de 2015

HISTORIADORA LANÇA O LIVRO "OS DEZ MITOS SOBRE OS JUDEUS"

A historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro, da Universidade de São Paulo, lançará em 26 de março no Rio de Janeiro o livro "Os Dez Mitos sobre os Judeus'', em que analisa os mitos mais populares sobre os judeus e que contribuem para a persistência do antissemitismo. (...)

“O livro vem para desvendar não só a imagem (dos judeus), mas também como acontece a manipulação da mentira, a compreensão da verdade nos mundos atuais. E quando eu digo mundos atuais, refiro-me às múltiplas possibilidades de especulação dessa informação ou de outra que venha perturbar a realidade histórica. Como este livro trabalha os dez mitos, ele possibilita uma leitura em doses homeopáticas, de trás para a frente, que traz uma reflexão sobre o crescente antissemitismo. Ele busca suas raízes, questiona o seu discurso e como vem sendo aplicado, diante do conflito no Oriente Médio e diante de todo judeu”, disse Tucci Carneiro em entrevista à Conib.

Publicado pela Ateliê Editorial, com o apoio da CONIB, o livro é composto por textos breves, independentes, sem ordem obrigatória de leitura.  Estes são os mitos abordados:

Mito 1: Os judeus mataram Cristo;
Mito 2: Os judeus são uma entidade secreta;
Mito 3: Os judeus dominam a economia mundial;
Mito 4: Não existem judeus pobres;
Mito 5: Os judeus são avarentos;
Mito 6: Os judeus não têm pátria;
Mito 7: Os judeus são racistas;
Mito 8: Os judeus são parasitas;
Mito 9: Os judeus controlam a mídia;
Mito 10: Os judeus manipulam os Estados Unidos.

O antropólogo Kabengele Munanga escreve no prefácio “São mitos construídos para reificar e atualizar os sentimentos de discriminação, hostilidade e ódio que remontam à noite dos tempos. O que está por trás desses mitos não é a intenção de se aproveitar deles para contar a história dos horrores ou para pedir penitência pelo ocorrido no processo de construção do judaísmo e do antissemitismo; pelo contrário. Os mitos retratados pela autora nos transportam ao coração da função política e ideológica dos mesmos”.

“Assim como em outras formas de preconceitos atrasados e medievais, dirigidos a variados grupos étnicos, religiosos ou de outra natureza, o sentimento antijudaico se assenta sobre mitos e sua perpetuação, fenômeno abordado de forma densa e clara neste livro”, afirma na orelha o jornalista Jaime Spitzcovsky.

“Ao procurar refazer a trajetória histórica dessas imputações, com seus efeitos inclusive no Brasil, a pesquisadora disseca a lógica desse monumento à estupidez que é o antissemitismo e presta um bom serviço à razão”, avalia o jornalista Marcos Guterman.

Estudiosa de diversas minorias sob o viés da intolerância e dos direitos humanos, a autora pretende escrever outras obras para análise dos mitos sobre grupos como ciganos, negros, indígenas, homossexuais.





Fonte do Texto e da Gravura:
Boletim Conib 
boletim@conib.org.br

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O PASSADO E O FUTURO DO PT (Uma aula de história!)

O PT nasceu de cesariana, há 29 anos (quando foi escrito este artigo). O pai foi o movimento sindical, e a mãe, a Igreja Católica, através das Comunidades Eclesiais de Base.

Os orgulhosos padrinhos foram, primeiro, o general Golbery do Couto e Silva, que viu dar certo seu projeto de dividir a oposição brasileira.

Da árvore frondosa do MDB nasceram o PMDB, o PDT, o PTB e o PT... Foi um dos únicos projetos bem-sucedidos do desastrado estrategista que foi o general Golbery.

Outros orgulhosos padrinhos foram os intelectuais, basicamente paulistas e cariocas, felizes de poder participar do crescimento e um partido puro, nascido na mais nobre das classes sociais, segundo eles: o proletariado.

O PT cresceu como criança mimada, manhosa, voluntariosa e birrenta. Não gostava do capitalismo, preferia o socialismo. Era revolucionário. Dizia que não queria chegar ao poder, mas denunciar os erros das elites brasileiras.

O PT lançava e elegia candidatos, mas não "dançava conforme a música". Não fazia acordos, não participava de coalizões, não gostava de alianças. Era uma gente pura, ética, que não se misturava com picaretas.

O PT entrou na juventude como muitos outros jovens: mimado, chato e brigando com o mundo adulto.

Mas nos estados, o partido começava a ganhar prefeituras e governos, fruto de alianças, conversas e conchavos. E assim os petistas passaram a se relacionar com empresários, empreiteiros, banqueiros.

Tudo muito chique, conforme o figurino.

E em 2002 o PT ingressou finalmente na maioridade. Ganhou a presidência da República. Para isso, teve que se livrar de antigos companheiros, amizades problemáticas. Teve que abrir mão de convicções, amigos de fé, irmãos camaradas.

A primeira desilusão se deu entre intelectuais. Gente da mais alta estirpe, como Francisco de Oliveira, Leandro Konder e Carlos Nelson Coutinho, se afastou do partido, seguida de um grupo liderado por Plinio de Arruda Sampaio Junior.

Em seguida, foi a vez da esquerda. A expulsão de Heloisa Helena em 2004 levou junto Luciana Genro e Chico Alencar, entre outros, que fundaram o PSOL.

Os militantes ligados a Igreja Católica também começaram a se afastar, primeiro aqueles ligados ao deputado Chico Alencar, em seguida, Frei Betto. E agora, bem mais recentemente, o senador Flávio Arns, de fortíssimas ligações familiares com a Igreja Católica.

Os ambientalistas, por sua vez, começam a se retirar a partir do desligamento da senadora Marina Silva do partido.

Afinal, quem do grupo fundador ficará no PT? Os sindicalistas.

Por isso é que se diz que o PT está cada vez mais parecido com o velho PTB de antes de 64.

Controlado pelos pelegos, todos aboletados nos ministérios, nas diretorias e nos conselhos das estatais, sempre nas proximidades do presidente da República.

Recebendo polpudos salários, mantendo relações delicadas com o empresariado. Cavando benefícios para os seus. Aliando-se ao coronelismo mais arcaico, o novo PT não vai desaparecer, porque está fortemente enraizado na administração pública dos estados e municípios. Além do governo federal, naturalmente.

É o triunfo da pelegada.




Lucia Hippolito

Cientista política, historiadora, consultora, jornalista e conferencista. Comentarista política com atuação destacada no rádio e televisão.





Fonte: http://universobh.wordpress.com/2014/01/17/pt-uma-urgente-aula-de-historia-lucia-hippolito/
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

terça-feira, 29 de julho de 2014

ANTISSIONISMO É ANTISSEMITISMO

Após o Holocausto, o antigo antissemitismo foi substituído pelo antissionismo. A máscara é nova, mas a alma horrenda é velha conhecida.


O debate sobre o Oriente Médio parece atualmente querer regredir ao pré-1947, quando a ONU decidiu dividir a Palestina em dois países, um árabe e um judeu. Aqui e ali, volta-se a negar o direito à autodeterminação nacional do povo judeu em sua terra ancestral.

A tentativa de demonização do sionismo é apenas isto: a negação do direito de um povo à autodeterminação. Nenhum outro movimento nacional sofreu ou sofre essa campanha contrária avassaladora.

É moda dizer que o sionismo e Israel são entidades coloniais. Nem como piada serve. Os falsificadores da história precisariam explicar por que a URSS votou na ONU em 1947 a favor de um "empreendimento colonial". Votação em que o maior colonizador da época, o Reino Unido, absteve-se. Aliás, a URSS foi o primeiro país a reconhecer Israel.

Nós mesmos somos cidadãos de um país cuja independência foi apoiada pelo Império Britânico. E daí? E daí nada. É comum que nações em busca da autodeterminação explorem as contradições intercolonialistas e interimperialistas.

A divisão de um país em dois aconteceu também em outra descolonização, na mesma época da partilha da Palestina, na joia da coroa britânica, quando Índia e Paquistão viraram dois países. E o critério para a delimitação também foi étnico-demográfico. Incluindo transferências de populações -- que hoje viraram sinônimo de limpeza étnica.

O direito à separação de povos e nacionalidades que não desejam viver juntos foi também assegurado, mais recentemente, no desmembramento da ex-Iugoslávia e na extinção da Tchecoslováquia.

Os argumentos deslegitimadores do sionismo mal disfarçam o preconceito e a discriminação.

Guerras têm vencedores e perdedores. O final da Segunda Guerra Mundial assistiu a dramáticos e trágicos deslocamentos populacionais, consequências de realidades produzidas no campo de batalha.

Um caso bastante conhecido é o palestino. Infelizmente, até hoje os palestinos pagam a dívida que seus líderes de então contraíram, ao aliarem-se à Alemanha nazista. Países árabes também invadiram o nascente Estado judeu logo após sua independência, em 1948.

Outro argumento contra o sionismo é que os judeus não seriam um povo, mas apenas uma religião.

Cada nação deve definir sua identidade. Se judeus definem-se por uma religião (o judaísmo), uma língua (o hebraico) e uma terra (Israel), ninguém tem nada a ver com isso.

Imagine-se o escândalo se Israel mudasse de nome, para "Estado Judeu de Israel". Mas não ouvimos reclamações contra, por exemplo, o "Islâmica" em "República Islâmica do Irã" ou "Árabe" em República Árabe do Egito.

O SIONISMO FOI E É APENAS ISTO: A EXPRESSÃO MODERNA DA AUTODETERMINAÇÃO NACIONAL JUDAICA. E Israel surgiu na descolonização no pós-guerra, beneficiado pelas alianças corretas na vitória sobre o nazismo. Essa é a verdade histórica.

O único caminho para a paz é o reconhecimento das realidades históricas e a divisão em dois países por critérios demográficos. Dois Estados para dois povos.

O antigo antissemitismo saiu de moda após o mundo ter descoberto o Holocausto. Foi substituído por uma nova forma de discriminação: o antissionismo. A máscara é nova, mas a alma horrenda é velha conhecida. Uma verdadeira aberração.






CLAUDIO LOTTENBERG
(presidente da Confederação Israelita do Brasil)





Fonte: Jornal "A Folha de São Paulo"
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/178169-antissionismo-e-antissemitismo.shtml

IGNOMÍNIA

Será que certos setores da esquerda brasileira estariam trilhando também esse caminho da ignomínia?


Todos os recursos do Hamas são canalizados para o treinamento militar.

Certa cobertura jornalística e posicionamentos de determinados governantes, aí incluindo a diplomacia brasileira, deveriam fazer parte de uma história da ignomínia. Versões tomam o lugar de fatos, a ideologia vilipendia a verdade e terroristas são considerados como vítimas inocentes.

Os episódios protagonizados pela ONU, em Gaza, deveriam escandalizar qualquer pessoa sensata. Em duas escolas da ONU foram encontrados foguetes, lá depositados pelos grupos jihadhistas. Supõe-se que lá não chegaram caminhando sozinhos, mas contaram com uma explícita colaboração de funcionários da própria organização internacional. Trata-se de uma clara violação da lei internacional.

A ONU, curiosamente, não quis fornecer as fotos desses foguetes, pois elas teriam forte impacto midiático, mostrando o pouco caso do Hamas com as crianças e mulheres que diz, para a imprensa internacional, defender. Ou seja, a organização fez o jogo do terror, pretendendo, porém, apresentar-se como neutra. Ademais, posteriormente, entregou os mesmos foguetes para as “autoridades governamentais”, isto é, o próprio Hamas!

Nada muito diferente do que aconteceu na guerra passada. Durante semanas fomos bombardeados, com manchetes, de que uma sede da ONU teria sido bombardeada pelas Forças Armadas de Israel. Era uma mentira deslavada. A própria organização internacional demorou, no entanto, 30 dias para fazer o desmentido. Como assim? O desmentido apareceu um mês depois nas páginas internas de jornais, como uma pequena notícia irrelevante. O estrago midiático foi feito com a colaboração da própria ONU.

E quando digo que o Hamas não se preocupa com a vida de crianças, idosos e mulheres quando fala para a imprensa internacional, refiro-me apenas a um fato. Em seu estatuto, essa organização terrorista prega abertamente a “educação” das crianças para a “guerra santa”, inculcando em suas mentes que devem estar preparadas para o martírio.

Várias lideranças do Hamas também têm dito claramente que elas utilizam mulheres e crianças como “escudos humanos”, embora a sua apresentação seja, evidentemente, a do combate pelo Islã, onde vidas devem ser sacrificadas. Por que divulgação não é dada a este fato?

As Forças Armadas israelenses são cuidadosas do ponto de vista de preservação de vidas humanas. Telefonam e enviam mensagens às populações das áreas que serão bombardeadas. Ocorre que o Hamas impede que essas pessoas possam escapar, com o intuito de produzir o maior número de vítimas civis, que logo serão filmadas e fotografadas. São essas imagens que serão utilizadas para a formação da opinião pública mundial. É macabro!

O Terror se caracteriza por não ter nenhuma preocupação com a vida dos civis. Assim é com os mais de dois mil foguetes lançados contra o Estado de Israel. Assim é com os comandos que foram enviados para assassinar a população civil dos kibutzim próximos à fronteira. Assim é com os palestinos que se tornam reféns e vítimas dessa estratégia terrorista.

O Hamas se mistura com a população civil. Utiliza escolas, mesquitas, instalações da ONU e hospitais como esconderijos de armamentos e bases de seus ataques. Seus dirigentes máximos estão alojados em um bunker em um hospital na cidade de Gaza. Vivem também em seus túneis, que são inacessíveis para a população civil que, lá, poderia se proteger.

O Estatuto do Hamas é um claro libelo antissemita, que busca pura e simplesmente a destruição do Estado judeu: “Israel existirá e continuará existindo até que o Islã o faça desaparecer, como fez desaparecer a todos aqueles que existiram anteriormente a ele.”

O seu alvo são os judeus e os cristãos. Aliás, esses últimos já são as vítimas do terror por organizações jihadistas na Síria e no Iraque. Assim está escrito: “Fazei o bem e proibis o mal, e credes em Alá. Se somente os povos do Livro (isto é, judeus [e cristãos]) tivessem crido, teria sido melhor para eles. Alguns deles creem, mas a maioria deles é iníqua.”

Para eles, os judeus fazem parte de uma grande conspiração internacional, à qual terminam associando também os cristãos. Utilizam, para tal fim, um livro antissemita do século XIX, forjado pela polícia czarista, para justificar o massacre de judeus. Eis o Estatuto: “O plano deles está exposto nos Protocolos dos Sábios de Sião, e o comportamento deles no presente é a melhor prova daquilo que lá está dito.” Mais clareza impossível, porém alguns teimam em não ler. É a miopia ideológica.

Enganam-se redondamente os que dizem que o Hamas procura a negociação. Para eles: “Não há solução para o problema palestino a não ser pela jihad (guerra santa)”, isto é, o extermínio dos judeus.

Israel aceitou todas as propostas de cessar-fogo, relutando, mesmo, em empreender a invasão terrestre. O que fez o Hamas: não cessou o lançamento de foguetes e rompeu todas as tréguas. Aliás, foi coerente com os seus estatutos: “Iniciativas de paz, propostas e conferências internacionais são perda de tempo e uma farsa.”

Neste contexto, falar de “desproporcionalidade” na resposta militar israelense revela desconhecimento ou má-fé. O país não poderia continuar vivendo sob o fogo de foguetes, como se aos judeus estivesse destinado viver debaixo da terra, em abrigos subterrâneos. Aliás, essa é uma boa distinção entre Israel e o Hamas. Os abrigos são para os civis, enquanto em Gaza são para os terroristas.

Observe-se que todos os recursos do Hamas são canalizados para o treinamento militar, a construção de túneis (agora de ataque) e a compra de armamentos e foguetes. O resultado está aí: a miséria de sua população.

As manifestações pró-Hamas que tiveram lugar em Paris tiveram a “virtude” de mostrar sua natureza antissemita, onde se misturam declarações contra o capitalismo, morte aos judeus e ataque a sinagogas. Tiveram, por assim dizer, o “mérito” da coerência. Esse setor da esquerda se associa ao terror, expondo toda a sua podridão. Será que certos setores da esquerda brasileira estariam trilhando também esse caminho da ignomínia?






Denis Lerrer Rosenfield
(professor de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul)





Fonte: Jornal "O Globo"
www.oglobo.com.br

A PROPÓSITO DO "ANÃO DIPLOMÁTICO"

Israel colocou em perigo seus soldados, sacrificando alguns deles, no esforço de minorar ao máximo as vítimas civis do inimigo.

Assim que o Ministério das Relações Exteriores do Brasil condenou energicamente Israel pelo “desproporcional uso de força na Faixa de Gaza” e convocou seu embaixador em Tel Aviv a retornar a Brasília para consultas, o governo israelense, por seu Ministério do Exterior, lamentou que o “Brasil, um gigante cultural e econômico, permaneça um anão diplomático”.

Realmente lamentável o comportamento do governo da sra. Dilma.

Gostaria que nosso chanceler explicasse como ele mede “proporcionalidade” no campo bélico. Saberia ele que se Israel enviasse o mesmo número de mísseis que o Hamas lançou sobre Israel nos últimos anos, Gaza estaria totalmente destruída?

Sabe ele os cuidados que Israel tomou na semana passada avisando centenas de milhares de palestinos para abandonarem suas residências, possibilitando com isso que o Hamas soubesse exatamente onde o Exército israelense se preparava para atacar e causando assim quedas que não ocorreriam se os ataques fossem realizados de surpresa? Ou seja, Israel colocou em perigo seus soldados, sacrificando alguns deles, no esforço de minorar ao máximo as vítimas civis do inimigo.

Têm Sua Excelência e a presidente que ele serve a menor noção da barbárie dos dirigentes de Hamas forçando seu povo a permanecer em casa, enviando mísseis de hospitais e de áreas residenciais, para conseguir que a reação defensiva israelense cause vítimas civis entre o povo palestino?

Aliás, conhece o ministro alguma guerra que não causou vítimas civis? E que sempre houve desproporcionalidade entre o número de vítimas das partes envolvidas no conflito?

Não compreende o chefe do Itamaraty que em Israel praticamente não caem vítimas civis porque o Estado protege seus cidadãos, com o mais sofisticado sistema de alarme e refúgio?

Não está evidente aos olhos do governo brasileiro que esta, como as anteriores guerras entre Israel e Hamas, foi provocada pelos terroristas fanáticos que governam a Faixa de Gaza como déspotas medievais?

Fez o chanceler a mais elementar pesquisa para se assenhorar do que diz a Constituição do Hamas sobre seu desiderato de destruir Israel e eliminar toda a sua população?

A equipe do Ministério de Relações Exteriores se assenhorou dos longos e sofisticados túneis pelos quais os bárbaros se preparavam para atacar covardemente a população civil do Sul de Israel? Qual o nível do sistema de informação de que dispõe nossa chancelaria?

E tem o governo brasileiro uma equipe jurídica sofisticada que poderia adverti-lo de que condenar Israel por sua defesa contra o terrorismo pode perfeitamente constituir cumplicidade com os terroristas e as atrocidades que praticam? Aliás, o mesmo se aplica aos governos dos países da União Europeia. Será que isso traz conforto ao governo brasileiro?

E o povo brasileiro, os intelectuais, os estudantes universitários, os jornalistas, saberão aquilatar o fenômeno psíquico que reside atrás desta discriminação contra Israel?

Quanto mais o Estado de Israel progride em alta tecnologia, no avanço de sua medicina, de sua ciência; quanto mais Israel comparece para ajudar populações vitimadas por desastres naturais; quanto mais Israel contribui para minorar o sofrimento de certas populações africanas via todo tipo de assistência, quanto mais os judeus concentrados em Israel lutam por uma paz séria e duradoura com seus vizinhos — apresentando propostas irrecusáveis — sempre ignoradas pelos árabes, que por sua vez nunca oferecem contrapropostas; quanto mais Israel se revela um pais com o mais alto nível de democracia; quanto mais a Suprema Corte israelense atende a reclamações de palestinos; enfim, quanto mais Israel se destaca no plano intelectual, moral e jurídico, mais é vitimado pela hipocrisia das potências democráticas que, em vez de apoiar o Estado Judeu, lançam-se contra ele com mentiras, cinismo e má-fé.

Qual a razão mais profunda desta injustiça gritante e vergonhosa? Ninguém desconfia?

Que cada um examine sua alma, sua história familiar, sua educação, sua visão do mundo e responda honestamente por que a demonização do Estado Judeu, por que a campanha injusta, cruel e perversa contra o Estado construído pelos sobreviventes do Holocausto?





Jacob Dolinger 
(professor de Direito Internacional)





Fonte: Jornal "O Globo"
www.oglobo.com.br

sexta-feira, 16 de maio de 2014

ISAAC ABRAVANEL (1437 - 1508)

Don Isaac Abravanel foi um dos maiores estadistas judeus e desempenhou um papel importante na história europeia. Ao mesmo tempo, não foi apenas um judeu leal e estritamente religioso, mas um notável erudito, comentarista bíblico e filósofo. Foi o último de uma longa linhagem de grandes líderes e heróis judeus da Idade de Ouro na Espanha.

Isaac nasceu numa família rica e instruída em Portugal. Seu pai, Judah, era tesoureiro de Estado de Portugal, e grande favorito do Rei Alfonso V. Isaac recebeu uma completa educação judaica, e demonstrou interesse por idiomas e filosofia. Mais tarde sucedeu ao pai no serviço ao rei.

Em sua grandeza, Isaac jamais se esqueceu de seus irmãos humildes. Usava sua grande fortuna para apoiar os necessitados. Assim, quando Alfonso capturou a cidade de Arzilla no Marrocos, e Isaac viu que havia duzentos e cinquenta judeus entre os prisioneiros, designou doze representantes para angariar fundos e resgatá-los, e ele próprio foi um grande doador.

Quando foram libertados, Isaac os sustentou com seus próprios meios durante cerca de dois anos, até que aprendessem o idioma do país e pudessem ganhar o próprio sustento. Abravanel também usou sua grande influência para melhorar a situação dos seus irmãos em outros países.

Quando Alfonso V morreu, e João II o sucedeu no trono de Portugal, a sorte de Abravanel mudou. Em 5243, o Rei João II deu início a uma política que visava a livrar-se dos nobres, especialmente os ministros de Estado que tinham servido ao seu pai. Abravanel soube a tempo que o rei mandara decapitar os funcionários mais graduados, e que ele estava na lista dos que teriam o mesmo destino. Estava a caminho para responder ao chamado do rei, mas quando soube aquilo que o aguardava, Abravanel fugiu para Toledo, na Espanha, onde sua família vivera em outros tempos. Acompanhado pela esposa e dois filhos, Abravanel chegou a Toledo quase sem dinheiro, pois o ingrato rei tinha confiscado toda sua fortuna.

Abravanel conseguiu um emprego numa empresa bancária judaica e ficou contente por sobrar-lhe tempo para estudar e cuidar da sua obra literária. Continuou seus comentários sobre a Torá que fora forçado a interromper devido à pressão dos assuntos de Estado. Escreveu comentários sobre Yehoshua, Shofetim e Shemuel, mas quando começou os comentários sobre o Livro dos Reis, o Rei da Espanha convocou-o para tomar conta do tesouro de Estado. Fernando e Isabel de Espanha sabiam que não conseguiriam encontrar um gênio financeiro mais capacitado que ele, e no mesmo ano em que o famoso Torquemada se tornou chefe da Inquisição na Espanha, Abravanel se tornava oficialmente tesoureiro dos reis (dois anos antes da expulsão dos judeus da Espanha).

Quando foi divulgado o terrível decreto da expulsão de todos os judeus da Espanha, exceto aqueles que desistissem de sua fé, Abravanel tentou evitar a catástrofe. Implorou aos reis que reconsiderassem aquela cruel decisão e ofereceu uma grande soma para o tesouro real. O rei e a rainha não lhe deram ouvidos e rejeitaram suas ofertas de dinheiro.

Em 9 de Av de 5252 (1492), Abravanel e sua família se puseram em marcha com o restante de seus correligionários. Ele abriu mão de seu cargo importante e juntou-se aos seus irmãos no exílio e sofrimento. Os refugiados finalmente chegaram a Nápoles, na Itália. Quando Fernando soube que os judeus tinham encontrado um porto seguro em Nápoles, pediu ao Rei de Nápoles (também Fernando) que não desse permissão aos refugiados de permanecer em seu país. O jovem Rei de Nápoles, porém, ignorou os protestos e exigências dos cruéis governantes da Espanha. Além disso, convidou Abravanel ao palácio real e o nomeou seu conselheiro.

Abravanel serviu a ele e ao seu filho Alfonso II, quando este subiu ao trono em 1494. Infelizmente, Nápoles foi capturada pelo Rei Carlos da França no ano seguinte, e o Rei Alfonso fugiu para a Sicília. Abravanel acompanhou Sua Majestade ao exílio e continuou a servi-lo fielmente, com devoção paternal, até que o rei exilado morreu. Então Abravanel partiu para a Ilha de Corfu, no Mediterrâneo.

Tendo perdido toda a sua fortuna para os conquistadores franceses, Abravanel passou por pobreza e provações. Mudou-se para Monopoli no Norte da África e, 8 anos depois, finalmente estabeleceu-se em Veneza. Não demorou muito e os governantes de Veneza convidaram-no para o Conselho de Estado, e Abravanel tornou-se um dos estadistas mais importantes da República Veneziana. Abravanel faleceu em Veneza em 5629, aos 71 anos, profundamente pranteado pelos cidadãos judeus e não-judeus do local. Os governantes de Veneza compareceram ao seu funeral, e foi enterrado em Pádua.





Nissan Mindel







Fonte do Texto e da Gravura:
PT.CHABAD.ORG - Revista Semanal
Chabad.org é uma divisão do Chabad-Lubavitch Media Center
Sob os auspícios da Sede Mundial de Lubavitch
http://www.pt.chabad.org/

segunda-feira, 12 de maio de 2014

POVOADO ESPANHOL "MATAJUDEUS" QUER MUDAR SEU NOME (CASTRILLO MATAJUDÍOS)

“Castrillo Matajudíos” é um pequeno vilarejo na comunidade autônoma espanhola de Castela e Leão, no noroeste do país, que ficou famosa mundialmente por seu nome politicamente incorreto. Seus 56 habitantes agora decidiram votar se mantêm o polêmico nome ou se o trocam por algo menos agressivo. 

Dois nomes estão sendo debatidos: Castrillo Mota de Judíos ou Castrillo Motajudíos, que significa “colina de judeus”. O prefeito Lorenzo Rodríguez Pérez revelou que o vilarejo recebe várias cartas exigindo que o nome da localidade seja alterado. “O nome pode ser considerado uma ofensa por muitos. Os moradores preferem dizer que são de Castrillo, para evitar polêmicas”. 

Não se sabe ao certo como esse título surgiu. O historiador Rodrigo de Sáez explica: “O termo original era Mota Judíos mas, entre os historiadores, não existe consenso se a mudança para Matajudíos foi provocada por um conflito real com os judeus ou se foi uma deformação provocada pelo antissemitismo que reinava na Espanha nos tempos da Inquisição, durante os séculos XV e XVI”. 

A primeira referência encontrada em registros ao termo “Matajudíos” é de 1627. O prefeito diz que seus ancestrais no vilarejo são inocentes das acusações de terem matado judeus. “Foram os de Castrojeriz, um povoado perto daqui, que em 1035 acabou com os judeus, matando algo como 60 judeus e realocando os demais para uma colina próxima a Castrillo”. De acordo com esta versão, foi nesta época que se começou a chamar o novo povoado de Castrillo Mota de Judíos, em referência à colina, que fica no caminho dos peregrinos de Santiago de Compostela.




Fonte do Texto e da Gravura: 
Informativo "ALEF News/Israel e o mundo judaico"
Ano 19 - Edição 1.899 - 12 de maio de 2014
Direção: Mauro Wainstock e Tania W. Benchimol
http://www.alefnews.com.br/