quinta-feira, 12 de abril de 2012

OS FASCISMOS

Este texto se propõe estabelecer uma relação entre o filme “Arquitetura da Destruição” (direção de Peter Cohen) e o texto “Os Fascismos”, de Francisco Carlos Teixeira da Silva (In: Aarão; Ferreira (orgs.). “O Século XX”, vol. 2).


O filme mostra claramente que Adolph Hitler possuía um imaginário artístico muito marcante, embora, na sua vida, isto tenha sido frustrado quanto ao seu estudo e concretização. Ele era um admirador da Antiguidade Clássica (Grécia e Roma), e foi daí que provinha todo o seu gosto pelas artes.

A partir desta capacidade artística proeminente e inerente em si, projetou um modelo de raça, baseado nos moldes arianos a que tanto se inspirava, destruindo tudo o que considerava, sob seu ponto de vista, como “feio” e “anormal”, para criar, então, um novo homem, puro de raça e estético. Buscava, assim, todo o apoio nas artes para desenvolver a sua ideologia e seu projeto.

Fascinado pela ideia racial ariana, sua visão de estética fez apresentar os seus diversos inimigos sob um aspecto comum, para não haver o perigo de as massas refletirem sobre as diferenças entre esses inimigos. E o aspecto comum foi o antissemitismo. Hitler exigia fé, mas sem o livre raciocínio, pois se raciocinassem poderiam descobrir ou desconfiar de sua ideologia baseada em princípios claramente autoritários que moviam todas as suas decisões.

Os ingredientes essenciais do Nacional-Socialismo já estavam em ebulição e evidência mesmo antes de Hitler os impor. Porém, por seu meio, recebeu as suas feições e a organização radical de repúdio deliberado e integral dirigido à religião, à ética e à humanidade. Assim, tentando eliminar e depois utilizando-se do eliminado, ou seja, tentando eliminar o “feio” e expressar a estética, utilizou-se exatamente daquilo que queria eliminar e que há de mais bárbaro e cruel na imaginação. Imaginação esta que Hitler possuía em alto grau. Talvez por este fato, dentre outros, os fascistas, em geral, difamam a psicanálise pois ela poderia dizer e revelar coisas que os fariam entrar em conflito com seus princípios ideológicos. Junte-se a isto que esta ciência psicanalítica era considerada judaica; Sigmund Freud era judeu.

O mundo naquela época parecia estar paralisado, amedrontado. Muitos, apesar de tudo, consideravam os fascismos como um possível meio e alternativa de conter a expansão do comunismo. Ansiedade e paranóia era o estado que vivia o mundo depois de acontecimentos marcantes como a Revolução Russa, a 1ª Guerra Mundial, a crise de 1929 e outras inquietações. E a defesa contra isto vai sendo idealizada por meio da construção de uma chamada “teoria limpa”, estética, artística, de reconstrução e de ordem. Essa “teoria” apresentou-se ao mundo ansioso e amedrontado como ideias e ideais fascistas ou os fascismos, e mais particularmente na forma de nazismo, com todas as suas características de uma arte e estética delirante e frustrada, onde ninguém era perdoado, nem os liberais, nem os marxistas e nem ainda o próprio povo alemão. Genericamente temos o nazismo (Alemanha, Hitler), o fascismo (Itália, Mussolini) e até a versão brasileira, o integralismo* (Plínio Salgado).

Uma liderança carismática organizada, ritualística e artística parecia envolver os seres humanos. Estes, quem sabe, frustrados, por sua vez, por não encontrarem outras alternativas, até se dispuseram inicialmente a enveredar pelo mundo e alternativas fascistas. Porém, o preço foi demasiadamente alto. A liderança carismática, no caso de Hitler, negando e tolhendo todas as diferenças, que são inerentes ao ser humano, optou por caminhos obscuros, transformando o gosto pelo belo, pela ordem e pela estética em gosto pela destruição.

Atualmente, a possibilidade moderna da existência de várias versões de fascismo, como no passado, coincide sempre com o caos social, político, econômico e ético, basta que analisemos e relacionemos, historicamente, o ambiente social e os seus governos respectivos. Por isto, os fascismos tornam-se em movimentos de massas, que não podem ser considerados apenas como mais um dos fenômenos históricos do passado, pois são possibilidades sempre presentes. O extermínio sempre foi uma realidade e vive no inconsciente individual e coletivo dos povos. Parece estar sempre viva a tendência, por parte de alguns, à aniquilação da individualidade, das leis e da justiça, tal como nos campos de extermínio nazista, daí o receio ou a esperança.

O peso histórico das atrocidades fascistas e mais particularmente dos nazistas parece ser um fato que ainda perturba profundamente as consciências. Talvez aí esteja a razão da proliferação de livros (neo)nazistas e de “revisionismos” históricos. Quem sabe alguns ainda pretendem aniquilar os conceitos de “bem” e “mal”, “certo” e “errado”. Peso de consciência para outros? Aniquilação de conceitos? Desorientação? Tentativas de retorno aos fascismos? Destruição e negação da história (como se fosse possível)?

A utilização do racismo como uma principal arma ideológica era o mesmo no programa de todos os fascismos em qualquer época, como registra a historiografia. É o mecanismo de manipulação de massas, de ódio e desprezo pelas alteridades e minorias.

As ideias estéticas de Hitler que se tornaram a “arquitetura da destruição” forçavam a dissolução dos partidos (exceto o seu partido!), fechavam sindicatos, enchiam os campos de concentração de socialistas, comunistas e judeus, e arregimentavam as forças intelectuais, educacionais e religiosas sob a vigilância da Gestapo. E Hitler dizia: “As massas são como uma mulher que se submeterá ao homem forte...” E quanto a essa submissão autoritária Mussolini dizia: “Tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado.” Eis o desejo profundo dos governos totalitários que, em outras palavras, arquitetam controlar e determinar todos os passos da vida pública e privada dos indivíduos.

Hitler foi um espírito rebelde desde jovem. Parece ter sofrido da ilusão dos “sem-rumo” e frustrados na vida. De um grande artista que queria ser não passou de algumas poucas obras artísticas. Torna-se difícil saber o que se passa realmente no âmago dos homens, porém, Hitler, por exemplo, nos leva a crer que criou raiva ao mundo e que se vingaria. Sua ambição artística bloqueada parece ter se transformado em crueldade. Tudo nos faz acreditar que, com sua raiva e frustração, foi aproveitado como instrumento para levar a cabo a “vingança da Alemanha” após a 1ª Guerra Mundial. Ou ele se aproveitou da situação para se vingar de suas frustrações, ou frustrado foi reanimado e aproveitado para as manobras pós Tratado de Versalhes onde os alemães foram humilhados. Em qualquer caso ele levou adiante uma espécie de “vingança” contra as formas liberais de organização que acusa serem culpadas pela crise e elementos desagregadores do Estado. Levou ainda adiante a investida carismática, a introdução do Estado Orgânico que não se macula com as contradições de grupos e minorias. Foi ainda contra o marxismo e as alteridades como já visto neste texto.

Provavelmente Hitler não tenha sido culpado único. Tudo indica que tenha sido um instrumento aliado aos interesses militares e comerciais da Alemanha (Goebbels, Thyssen etc.). Junte-se a isto que o povo, de certa forma, também estava disposto a ver a Alemanha de outra maneira, diferente do pós 1ª Guerra, mesmo que trocada a educação pelo militarismo, pela disciplina rígida e pelo totalitarismo fascista.

Enfim, a historiografia é rica em fatos históricos sobre o assunto, ainda mais sendo um episódio que pode ser considerado recente e fartamente ilustrado e documentado, com testemunhas que viveram e trouxeram fatos à tona. Mas o que pode ser afirmado é que a humanidade passa periodicamente por experiências ideológicas de diversas e árduas matizes. Sempre grupos ou pessoas individualmente sintonizaram-se com as diferentes ideologias, sejam essas sintonias fruto de causas pessoais (compreensão ou visão de vida, frustração, ilusão etc.) ou simplesmente uma meta a ser seguida.



Prof. Hermes Edgar Machado Jr. (Issarrar Ben Kanaan) 



Fonte da Imagem: Acervo de autoria pessoal

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